Parece que 25 anos se passaram entre a última retrospectiva,
mas foram apenas 12 longos meses de aprendizado intenso. Afinal, o que é mesmo
a vida se não seguir aprendendo com cada dia? Já aviso que o conceito está atrasado e a leitura é longa,
então ajeite os óculos, fique confortável e tenha paciência com esta que vos
escreve.
De 2013 levo memórias maravilhosas, mudanças de opinião,
choros incontroláveis e que pareciam sem fim, madrugadas sem dormir e muitas
outras coisas que escreverei aqui. Vamos tentar lembrar por partes, mas não
garanto linearidade, porque é tarde da noite e eu tive essa vontade louca de
escrever que não me deixou dormir.
Uma das coisas tem sido aprender a ter paciência. Meu Deus,
como é di-fí-cil! A experiência toda, contada mil vezes pra vocês de como eu
cheguei à Engenharia Civil Ufscar, me ensinou a ter um pouco mais de paciência
e fé. O que estava separado pra mim não era de mais ninguém, apenas demorou um
pouco a chegar a meu ver, mas chegou no tempo certo. Essa coisa de paciência me
irrita profundamente. Nunca fui uma pessoa paciente, aprendi a lidar com isso.
Outra coisa é que a cada dia me surpreendo comigo mesma. Não
sou quem eu queria ser por nem um segundo sequer. O que anda acontecendo de
diferente é que estou firmando opiniões e começando a encontrar as que valem a
luta. Gostando ou não, estou me transformando em alguém que não tem medo de
expor suas verdades e defende-las com unhas e dentes. Acho que muita gente não
gosta disso... mas eu não me importo mais. Estou farta de tentar agradar as
pessoas e o pior: pessoas que eu sei que não dão a mínima para querer descobrir
quem eu realmente sou e só estão esperando meu próximo erro. Ah, como eu estou
cansada de gente hipócrita... e que atire a primeira pedra quem é leal ao que
seus lábios dizem.
Descobri também que as pessoas conseguem viver muito bem sem
mim, obrigada. Muitas pessoas das quais eu realmente prezava a amizade e a
companhia simplesmente desapareceram e estão vivendo muito bem. Mas acho que é
um imenso egoísmo meu pensar que alguém não poderia viver sem mim. A questão é
que, de tanto tentar resolver e aconselhar problemas dos outros, acabei por
querer tomar todos os problemas sob minha proteção e resolver até os que não pertenciam
a mim. Achei que só eu pudesse resolvê-los. Isso é um grande erro. Nunca
carregue os fardos que as pessoas não entregaram a você: é desumano, você vai
sofrer e se arrepender depois. Aprenda com meu erro, evite o seu.
Minha vida emocional por enquanto continua uma perfeita
bagunça. Não estou certa da porcentagem de influência que os hormônios exercem
nessa área, mas estou certa de que é enorme. Existe uma coisa maligna chamada
TPM que tinha me abandonado ano passado, mas voltou com força total esse ano,
abalando completamente meu emocional. Você homem que me lê: eu sei que você
acha que é frescura, mas também sei que você já experimentou os efeitos
colaterais dessa pequena possessão hormonal. Mas, de volta ao emocional: por
alguns instantes achei que tivesse me apaixonado... é, acontece. Nos instantes
seguintes, percebi que Darwin estava certo a respeito da seleção natural. Não
sei qual é a lógica do meu subconsciente para que as futuras gerações
sobrevivam, mas é certo que quando Darwin grita ninguém pode se fazer de surdo.
Também tive várias mudanças de humor repentinas. Eu acho que a engenharia deve
estar me deixando meio maluca. Meio mais maluca. Mas eu não sou uma pessoa
ruim. E estou aprendendo a aceitar minhas qualidades... afinal, onde mais
encontrariam uma garota que curte RHCP, Johnny Cash, Coldplay e etc, surta com
The Walking Dead e Game of Thrones, gosta de filme de terror e não é cheia de
frescuras? E claro: que está solteira. Pra quem procura por uma que goste de
metal tenho indicações (só se eu aprovar o currículo). Estou bem certa da minha
identidade feminina, até por que adoro todas as frescurinhas cosméticas que
existem... Às vezes acho que sou um grande Ted Mosby da vida. Mas por vezes me
acho parecida demais com a Robin. Se até ela teve um final feliz, por que não
eu? – se você não conhece as referências assista How I Met Your Mother e seja
feliz. A questão é que, acho que a partir de 2014 começarei a mandar
currículos. Ou aceita-los. Tenho algumas exigências ínfimas. Mas digo que ainda
não descobriram meu valor. Sorte que eu descobri primeiro pra que nenhum idiota
me fizesse sentir como se eu valesse menos do que o valor real...
Uma coisa que me irrita é gente feliz 24 horas por dia, 7
dias na semana. No Facebook, na realidade... Na moral, ninguém consegue ser
feliz o tempo todo nem no The Sims, por que isso poderia acontecer na vida
real? Tenho muita desconfiança com pessoas assim. Para mim elas têm um lado
psicopata e eu estou falando bem sério. Sou o tipo de pessoa que você pode
reclamar de qualquer coisa (e eu adoro que reclamem) por que assim sei que
estou falando com alguém normal, que tem alguma perspectiva concreta a respeito
da realidade. Reclamar sobre o final de semana estar acabando ou que sua vida
está corrida não vale. Não sou otimista, nem pessimista. Prefiro acreditar na
razão. Deus me deu um cérebro pra usá-lo, certo? E eu vou usá-lo pra desconfiar
de você, que posta todos os dias o quão maravilhosa é sua vida e o quão feliz
você é pra sempre. A vida não é um conto de fadas. Reclame. Fique triste. Fique
bravo. Tenha alguma personalidade, pelo amor de Deus!
Outra coisa que me surpreendeu bastante foi pensar que ao
deixar o cursinho eu não teria mais dúvidas na minha vida, seria uma Mulher
Maravilha na Engenharia e em todo o resto para sempre. Não. Apenas não. O
cálculo e a geometria analítica foram os primeiros a me fazer sair chorando por
causa da escolha que fiz. Arrependimento? Nenhum. Aliás, alguns... mas nenhum
em relação ao curso escolhido, todos relacionados a coisas que não fiz. Parece
mesmo verdade esse enorme clichê de que você se arrepende mais de coisas que
não fez do que daquelas que fez. Não ter
estudado tanto, não ter falado o que era necessário, não ter brigado para manter
as minhas aparências, não ter abraçado, não ter beijado... Vários
arrependimentos de não ter feito coisas e apenas dois pelas coisas que fiz:
manter a educação em situações onde eu deveria ter feito escândalo e colocar
tantas vírgulas onde deveria existir um nítido ponto final. Fazer o quê... não
sou boa com finais. As dúvidas continuam em minha vida com força total. Qual
área seguir, de qual organização e eventos participar, em que eu gastarei meu
dinheiro, se continuar sozinha é vantagem ou prejuízo, se formar família é
vantagem ou prejuízo, se é essa pessoa que eu quero ser... Muitas reticências
pra poucos pontos finais, como sempre.
Em 2013 aprendi que é difícil – num nível muito mais
avançado – conviver com pessoas. Conheci um milhão de pessoas na faculdade e
isso me fez enxergar gente de outra maneira. Sempre tem alguns que você vai
querer se espelhar e amar para o resto da vida, por que são tão maravilhosos
que você começa a ter fé na humanidade de novo. Graças a Deus, a presença de
pessoas assim foi recorrente na minha vida esse ano. Amiga de quarto, de casa,
de faculdade e muita gente engraçada e bem humorada. Mas como tem gente chata
nesse mundo também! Gente que só vem falar com você quando precisa de alguma
coisa, gente que não te ajuda nem a segurar sua mochila no ônibus, gente que se
acha super engraçada mas é mais chata que TV aberta no domingo. É claro que
todo mundo tem um dia ou outro de mau humor – lembrai-vos dos hormônios! – mas
é preciso guardar as pessoas boas na memória. E coloca-las na estante se
possível. Pendura-las na parede do quarto pra que toda vez que a fé na
humanidade se abale você se lembre de que existe gente boa no mundo. E que as
pessoas mudam quando querem mudar e isso é uma boa coisa. Recuso-me a condição
de viver achando só os defeitos das pessoas. Recuso-me a perder a fé na
humanidade. Enquanto existirem corações de carne batendo existirá esperança,
embora ela seja abalada constantemente.
Em 2013 a parte cultural e imaginativa da minha vida foi
extremamente privada pela engenharia. Isso não quer dizer que eu não tenha
participado de eventos legais nem que não tenha lido. Mas acho que não li
nenhum livro esse ano. Sim, isso é uma vergonha. E não cumpri minha promessa de
assistir todos os filmes de Star Wars. Mas é preciso ressaltar que houve muito
Guidorizi, Sociologia, Hallidays e Geometria Analítica para Todos (uma grande
mentira, já que usei esse livro por dois semestres e o odeio com todas as
forças) pelo caminho... Acho que vai ser
muito difícil e vai demorar um pouco para que eu concilie faculdade e
lazer. No entanto, minha imaginação foi
longe nas épocas de provas, trabalhos e estresse. É engraçado como tempos
difíceis fazem surgir em mim uma pessoa maluca cheia de imaginação e muito
chata. Mas acho que os outros se acostumam com esse meu jeito de fazer piada
com situações ruins. Outra coisa que despertou minha imaginação foi o modo como
alguns docentes dão suas aulas e o modo com que eu secretamente desejei
mata-los. Sério. Não que eu fuja de trabalhos e tudo mais, mas os professores
precisam ser avisados que fazemos de 8 a 12 matérias em um semestre e que
precisamos dividir o tempo entre elas. DIVIDIR. Acho que isso é algo que não
cabe na mente de vários deles...
Por falar em professores e etc, esse ano comecei a fazer
várias coisas que eu não fazia na vida e que, pra ser sincera, não me orgulho.
Como, por exemplo, beber 500 ml de Coca Cola de uma só vez pra tentar ficar
mais acordada (claro que não adiantou). O vício do café parou por pura preguiça
e por causa da azia maldita que a porcaria do café solúvel – pior invenção de
todos os tempos – me causou. Comecei a assistir mais tv aberta e
sinceramente... não. Altos papos com a Ju sobre os absurdos da novela que a
gente continuava a assistir por que né, chega de estudar. Confesso que em casa
não ando assistindo... desisti. Ah, o ônibus! Grandes aventuras do dia a dia
pra pegar ônibus... sair correndo, entrar no ônibus errado, sair de um e entrar
no outro com 15 segundos de intervalo... As coisas que eu comi esse ano, no
Restaurante Universitário e em casa não são muito agradáveis de lembrar, não
tenho muito do que reclamar, mas vida de universitário é sofrida. Muito
sofrida. Nem no cursinho conseguia estudar 5 horas com duas pausas de 15
minutos, no máximo. Não estudava tanto, não tinha tanto sono, não queria matar
professores... é uma vida muito bela e cheia de hábitos estranhos essa vida de
universitária...
Aquela mania de Monica Geller ficou pior por morar em duas
cidades. Nunca sabia o que trazer e o que levar nas viagens de fim de semana.
Com o tempo fui ficando mais confortável com tudo isso e já estou começando a
achar que a vida será muito triste quando a faculdade terminar. São tantas
desgraças, tantas risadas e situações divertidas que eu vou sentir muito a
falta de tudo isso. Agora já posso planejar direito o que quero sem ficar me
preocupando em estar longe da família e dos amigos de antes da faculdade, por
que sei que eles me amam e estarão sempre comigo e também sei que eles estão
muito felizes pelo fato de que eu esteja realizando um sonho muito antigo. É
claro que é difícil, quem disse que seria fácil? Mas essa é a vida... e eu
espero muito mais de 2014. Muito mais. Grandes coisas novas estão por vir e eu
não tenho mais medo de mudanças – de mente, de coração e de opinião.
Estou com os braços abertos para receber esse novo ano, para
continuar minha pequena filosofia de vida baseada no Renovatio nosso de cada
dia e procurar a felicidade nas coisas mais improváveis... é ali que ela se
encontra às vezes. E é claro, quando faltarem opções de como reagir é sempre
bom seguir o conselho daqueles pinguins de Madagascar: sorria e acene, 2014
está começando.
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