domingo, 20 de dezembro de 2020

Retrospectiva 2020 e uma odisseia de fatos inacreditáveis

Coitada da Bruna do passado que desejou "menos enxaquecas e mais empatia" pra esse ano. Mal sabia ela que viveria, em "live action", uma versão esquisita, tediosa e enfurecedora de The Walking Dead, e, justamente pela falta de empatia, teria várias enxaquecas.

Mas o ano começou como qualquer outro, bem tranquilo. A até então desempregada que eu era estava otimista - ou tentando - após seis meses fora do mercado. Esse tempo me fez experimentar sentimentos muito ruins a respeito de mim mesma e duvidar de tudo. Coitado do Paulo que era meu ombro dia e noite e me aturou chorando e reclamando por longos meses. Mas, ainda assim, em fevereiro, deu praia. E foi bom ver o mar de novo, ainda que só por um fim de semana.

Nesses dias, já estava começando a dar aulas de inglês em uma escola, aprendendo mais sobre o idioma e sobre o processo de aprendizado. Era tão louco pra mim, ser formada numa área completamente diferente, mas estar gostando do  processo. Pelo menos eu estava me movimentando e, mal sabia, que esse seria o início de uma jornada inesperada com o inglês. E com a pandemia.

Logo veio o carnaval e, de novo, estava ruim de saúde. Não faço ideia do BO que deu, mas meu boleto da Unimed sentiu aqueles 20 dias que estava ruim e passei por um monte de médicos. Logo que melhorei dessa nhaca toda, comecei a trabalhar acompanhando obra novamente, quinze dias antes desse pandemônio. Que experiência doida. 15 dias acompanhando tudo que há de mais doido e improvisado na engenharia - e o problema volta sempre pra má gestão das pessoas. 15 dias antes da pandemia chegar aqui eu já estava usando máscaras, mas era dentro dos lugares com bichinhos, pra não contaminar eles, veja bem.

Paramos. A pandemia estourou no final de semana em que veria meus amigos e comemoraria o aniversário do namorado. O baque foi grande. 15 dias depois, vendo que, obviamente as coisas não iam voltar ao normal tão cedo, fui dispensada do acompanhamento de obra e, pela segunda vez sendo dispensada, me senti aliviada. Essa experiência me fez entender que não adianta tentar se encaixar onde você, seus princípios e valores não se encaixam. E então entrei na fossa do Covid, como muitos estavam em abril.

Não sabia o que estava acontecendo, noticias novas todos os dias, casos subindo rapidamente, hospitais em estado caótico. Estava enrolada dentro de mim mesma, insegura, com medo do futuro e, acima de tudo, triste. O distanciamento e o uso de máscaras se tornaram comuns e nesse meio tempo, fui impulsionada a continuar dando aulas de inglês, mas dessa vez, online. 

Aí, nesse ambiente online, conheci a Ih, Aprendi, que foi um choque de realidade. Estudei pra poder melhorar minhas aulas. Falei MUITO em inglês, vários assuntos, e me senti livre pra me comunicar. Tirei as últimas amarras de falar em público que existiam em mim. Cresci como pessoa, melhorei meu inglês e me desafiei de várias maneiras sem gastar um real, no meio de uma pandemia mundial. Foi louco esse ano, já falei isso nesse texto?

Redescobri meu corpo através das asanas da yoga de novo. Fui disciplinada por um período de tempo e meu corpo sentiu a diferença. Muito mais energia e disposição. Através da dança do ventre com uma querida amiga de longa data descobri que o exercício faz MUITA diferença e encarei o desafio de dançar - me divertindo no processo - pra me movimentar e me amar um pouco mais.

Redescobri minha história desenterrando minha caixa de bordados. Nela, todas as vezes em que pegava uma linha nova, pensava nas histórias das mulheres da minha família, nas mulheres que geralmente bordavam suas expectativas num casamento durante aquela preparação de enxoval. Isso ainda me toca muito, por que, por mais que elas tenham criado a minha história, sou muito diferente delas. Hoje, meus bordados não são a expectativa de um relacionamento que me salve dos maus olhos da sociedade - eles são minha expressão de liberdade, meu hobbie, minha aquarela. E nem venha falar de perfeição pro meu verso: não foi, não é e provavelmente não será perfeito. Assim como eu. Diferente daqueles bordados, tão lindos, a perfeição nunca mais será um fardo de frustração pra mim.

E logo depois, arrumei um emprego online, onde o já conhecido Planejamento Financeiro era minha função. Eis que nesse tempo me descobri péssima vendedora - não que já não soubesse disso antes. Não me levem a mal, amo Planejamento Financeiro. Mas daí a convencer alguém a me pagar para ajudar a fazer uma mudança dolorida, difícil e falando de um dos assuntos tabus da sociedade é um LONGO caminho. Mas caminhei essa jornada. Pude perceber que o conhecimento que tenho, que considero pouco, é bastante pra outras pessoas. E as fez se movimentar. Se tornaram dispostas a encarar a dura realidade da vida e o melhor: se dispuseram a mudar.

Os meses foram passando rápido, o incômodo dentro de mim crescia, vai saber o porquê. Eu ainda estava deslocada, fora de um eixo, atordoada pela pandemia e dizendo todos os "sims" que poderia. Nas aulas de inglês encontrei um propósito, que já me chamou faz tempo e que, na época, fugi. Ali sou eu mesma, dou bronca, falo que não faço milagre. Não faço mesmo, só mostro o caminho. Se algum professor te prometer que você vai sair o melhor naquilo que está aprendendo - não acredite nele. Mas se você se dispuser a ser o melhor aluno, com o melhor professor, com certeza, impossíveis podem acontecer.

Um mês antes do meu aniversário, com a pandemia acalmando - mais ou menos - numa ligação, uma grata surpresa. Num processo seletivo de duas entrevistas, entrei em uma empresa enorme de engenharia que já admirava desde antes de formada. Durante todo o processo de admissão pude respirar aliviada por ver ali valores que existem em mim. Um novo recomeço na carreira que escolhi aos 20 anos, quase oito anos depois. Comemorei meu aniversário trabalhando muito, o que foi ótimo. Finalmente, não me senti deslocada e ainda mais: muito bem recebida e acolhida.

Mas é 2020 né. Não poderia acabar simples assim. Ao viajar pra conhecer as obras em Araraquara, escolhi a noite e o hotel em que um evento inacreditável aconteceu - um assalto a banco com fuzis, bombas e a coisa toda. Na madrugada, até entender o que estava acontecendo, só conseguia pensar: esse ano só pode estar de brincadeira né não? Qual a chance? Pois é. Fiquei uns dias pensativa a respeito e nenhum sentimento se encaixava muito. Acho que o modo sobrevivência de 2020 já estava ativado há tanto tempo que nem deu pra sentir muito sobre nada.

Esse modo sobrevivência tem me desgastado, e, com certeza, desgastado muitas pessoas. Cheguei na última semana de trabalho de dezembro sentindo como se todo o peso do mundo estivesse sob os meus ombros. Planejei os presentes pra todo mundo, por que de tristeza, esse ano já esgotou as cotas. Agradeci sem parar por ter tido a oportunidade de crescer durante esse ano, enquanto lá fora houve muito luto, muita luta, muitas lágrimas, muita exaustão. Sou muitíssimo privilegiada, assim como você, que me lê.

Eu fiz parte das estatísticas para pesadelos, enxaqueca e bruxismo, tensa pela má administração de recursos e o mau direcionamento da população diante da pandemia. Nunca na vida presenciei tamanha incompetência. Mas o governo só reflete quem somos, e o nervoso certamente não foi só em relação às autoridades - ainda tem gente indo pro bar como se fosse uma quinta qualquer de 2019. Ainda tem gente andando com o nariz fora da máscara. Ainda tem muita gente sendo negligente com a saúde do próximo. A humanidade sempre me decepciona, mas não me surpreende mais - o modo sobrevivência parou de ver notícias e olha o instagram com muito cuidado pra não ficar irritada.

Não sou iludida o suficiente pra crer que um novo ano vai mudar todo o cenário e fazer com que as coisas voltem ao "normal". Não quero que o trabalho volte ao normal, amei trabalhar em casa. É certo que existem limitações, pontos negativos e saudade do ambiente de escritório. Mas nada se compara a poder acordar mais tarde, tomar um café tranquila e começar o dia com a cama arrumada. Não me iludo com o "novo normal". Eu ainda quero sair pra tomar um café com os meus amigos, fazer aquele churrascão de Ano Novo e viajar de ônibus sem quase ter uma crise de pânico por que a maioria das pessoas não está nem aí pro uso de máscara - mesmo sendo obrigatório. 

Mas dentro de mim, algo dolorosamente, mudou. As situações me transformaram. Mesmo no desespero, aquela velha paz, conhecida do meu coração, nunca me desencorajou. Mesmo na tristeza, o Amor se demonstrava a mim e, por obrigação e doação, eu o demonstrava a quem pudesse. O virar do ano não vai mudar as circunstâncias, mas o virar da chave dentro de mim, certamente vai.

Que em 2021 cada um possa encarar as situações com as ferramentas internas que construiu em 2020. Que o olhar pra necessidade do próximo seja constante e seja missão, que seja forte, duradouro e verdadeiro o Amor.  E que o modo sobrevivência se afrouxe um pouco, pra permitir que os sentimentos sejam reais novamente.

domingo, 8 de novembro de 2020

O que aprendi em 3 anos de relacionamento

Aprendi que minha linguagem do amor preferida é a palavra mesmo. Gosto de falar e escrever pra demonstrar sentimentos, angústias e toda a bagunça que mora dentro de mim. E esse é um dos muitos aprendizados - por que o Paulo fala outra língua completamente diferente na minha. E o tradutor no relacionamento é você mesmo, que se vire nos trinta o outro pra te entender quando você demonstra descontentamento, quando está cansado ou quando está sendo carinhoso. Demorei pra entender que estar em silêncio para ele é paz. Pra mim, a paz é a conversa sincera dos jantares, dos cafés, a velha e brega brincadeira de tentar adivinhar as histórias dos outros e dar risada com as crianças sendo... crianças. Enquanto não for ilegal, esse vai ser meu momento de pura alegria. A cumplicidade faz tudo ser mais divertido.

Aprendi que estar longe só potencializa os sentimentos. Não tem hipocrisia por aqui não: ficar 3 meses sem se ver pessoalmente é horrível. É chorar de saudade dia sim dia não, é achar que o tempo à distância foi "perdido". Mas amor é investimento - aprendi com uma psicóloga muito querida -  e geralmente, investimentos têm retornos mais interessantes quando pensamos no longo prazo. Com visão de curto prazo, parece mesmo perda de tempo. A distância potencializa o amor, o ciúme, a saudade, a esperança. Tudo fica sob uma lente de aumento e é sua responsabilidade aprender a lidar com isso. Se você não está disposto a lidar, nem vale a pena tentar. Pode ser que a distância potencialize as diferenças também e, talvez elas sejam tão grandes e tão expressivas, que não seja mais possível continuar. Felizmente, pra nós, a distância potencializou - e muito! - os sonhos em comum. A visão de longo prazo nesse investimento chamado relacionamento também se potencializou. O que são 3 anos diante dos próximos 20, 25 anos?

Aprendi que amor é escolha. Diária. E não se engane: amor não é sobre você. A maior satisfação de um relacionamento é ver o outro feliz e não ser feliz. Ser feliz é consequência - e consequência necessária. Amor é escolher junto com o outro. É escolher ceder algumas vezes. É escolher se mostrar vulnerável para alguém que vai ser colo, não julgamento. É escolher estar junto de alguém que te permite melhorar todos os dias e ainda mais - alguém que te impulsione a ser melhor. Não é nada fácil andar sozinho, mas estar acompanhado, além de não ser fácil, é escolher todos os dias. É abandonar o egoísmo, não a sua individualidade. Escolher estar em um relacionamento não me completa: me transborda e impulsiona. Ainda sou um amontoado de sentimentos malucos e dúvidas enormes, ainda me basto, mas preferi não caminhar sozinha e compartilhar minha loucura com uma pessoa igualmente vulnerável e que também poderia perfeitamente se bastar por si mesmo.

Mas também aprendi que amor é casa - e casa é, ou deve ser, lugar de descanso. E que delícia entender que na sua casa você pode andar de pijama, cabelo enrolado num lacinho e pé descalço. Enquanto o amor amadurece, a casa fica cada vez mais vivida e cada vez menos parecida com capa de revista. Não interessa se o seu sofá tem a cor tendência do ano: a gente só quer saber se ele é confortável pra poder deitar e ver um filminho. Relacionamento também é casa, a gente desarruma de vez em quando, derruba paredes, compra uma toalha nova pro banheiro. Lá dentro a gente se arruma pra sair e enfrentar o mundo, se pinta de guerreiro e casca grossa mas sempre volta pra poder chorar e desabafar em paz. Não há nada como a nossa casa - e não há nada como ter alguém pra ser seu lugar de confiança, paz e descanso.

O que aprendi não chega nem perto do que ainda vem por aí, mas o meu primeiro desejo pra esse relacionamento permaneceu: leveza. Passamos por algumas barras pesadas com tanta leveza que quase não consigo acreditar. E só desejo que, no meio desse mundo doido e de constante mudança - graças a Deus! - você encontre leveza também. Eu tive a sorte de um amor tranquilo... que transforma tédio em melodia todos os dias.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Recolocação profissional?

Eu nunca gostei muito do termo "recolocação" profissional. Sempre me pareceu tratar o funcionário pura e simplesmente como um recurso, que pode ser alocado como bem se entende. Por um lado, sim, somos recursos, mas por outro lado, existe uma pessoa ali, cheia de expectativa e emoções, que, por maior controle e inteligência emocional que se tenha, ainda sente e respira como qualquer um.

Minha primeira experiência de demissão (espero que seja a única RISOS) aconteceu em uma sexta feira, foi bem horrível. Final de semana todo planejado já, sim senhor, eu estava prestes a viajar pra Prudente, felizmente. Foi a pior viagem de ônibus da minha vida - pior até do que a que o ônibus quebrou na esquina do destino final e da que eu vomitei por 2 horas antes da chegada. Desde então, a gente se vira como pode né? Faz um freela aqui, um serviço part time ali. Descobre aquilo que sabe e que pode ensinar e vai. No meu caso, eram o inglês e o planejamento financeiro. Eu sempre estava com um olho no peixe e outro no gato. 

Perdi as contas de quantos processos seletivos participei e muito mais de quantos currículos enviei em um ano e meio transitando entre carreiras, me virando nos 30 ao longo desse ano maluco. Aprendi que, infelizmente, QUALQUER resposta em relação ao seu contato é sempre a EXCEÇÃO. A maioria das empresas, mesmo as que te chamam para uma entrevista presencial (que convenhamos, hoje em dia, poderia ser feita online), não te dão retorno em caso de negativa. Mesmo em casos de retorno positivo, às vezes, demora tanto pra acontecer que você já está em outro trabalho.

Depois de um tempo, confesso que fiquei irritada com esse comportamento quase que padrão dos departamentos de contratação ou empresas terceirizadas de contratação. Já não esperava mais resposta de nada e seguia vivendo minha vida. Quando me chamavam para entrevistas sem falar sobre pretensão salarial e eu perguntava, era sempre a mesma coisa. Em uma das últimas entrevistas que fiz, que exigia a FORMAÇÃO em engenharia ou em arquitetura, o valor de contratação não dava 2 salários para trabalhar horário comercial. Isso não aconteceu uma só vez, foram várias. De saco cheio que estava, indignada com o cenário, soltei um "esse valor eu faço trabalhando em casa, em horários mais flexíveis". Rapaz do céu, quando vi já tinha falado. Acredito que a empresa dessa entrevista gosta do termo "recolocação". Óbvio que a Maria não me retornou o contato depois dessa.

Mas, felizmente, existem exceções. Confesso que não me recordava mais da inscrição para a vaga e recebi uma ligação no meio da manhã para uma entrevista online em uma empresa que admiro bastante desde antes de me formar. O tratamento com os funcionários e nos canteiros de obra sempre foi muito responsável. Cartas na mesa, jogo limpo. A ansiedade bateu fortíssimo, desde a minha formação eu queria ter a oportunidade de trabalhar com infraestrutura, sou Urbana desde antes de descobrir que meu curso tinha essa divisão. Benefícios e salário justos, adequados ao mercado e a possibilidade de trabalhar remotamente. Is this real life?

Depois da entrevista técnica, em uma sexta feira, novamente com viagem programada, umas duas horas antes da partida, recebi a proposta para contratação. Dá pra imaginar que a minha viagem foi bem diferente da outra né?

Desafios diferentes vão me esperar lá na frente, novas perspectivas sobre obras, sobre trabalho remoto, presencial o que vier. Se tem uma coisa que 2020 me ensinou é que tudo pode mudar, se ajustar, se reinventar. E de uma hora pra outra também. Então, a recolocação mais importante agora é a da jornada. E certamente, ela vai acontecer várias outras vezes...

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Encontre seus lugares

Um exercício dolorido, cansativo e difícil que tenho feito diariamente nesse período de isolamento é questionar meu lugar. Preciso parar de olhar para o mundo e olhar pra dentro, e só depois posso fazer a diferença aqui fora.

É certo que já estive em lugares dos quais eu não pertencia. Já visitei eventos em que me sentia um peixe fora da água. Já cozinhei minha experiência em águas mornas, sem perceber que aos poucos ela fervia e ia me matando.

Às vezes você vai fazer de tudo pra pertencer, igual adolescente. Ri das piadas que não tem graça, concorda em silêncio com atitudes que detesta. Se omite. Trai seus valores e princípios e, de repente, trabalha 12 ou 14 horas por dia por um ideal que nem é seu, é emprestado. Mas você quer pertencer, quer ser coroado também. Sinto dizer, mas em terras onde só o rei dita as regras, o plebeu nunca vai receber a coroa. De tanto se esforçar, o cansaço vem. O objetivo fica vazio, a água começa a ferver. Enxaquecas. Crises de ansiedade. Depressão. Fuga da realidade de qualquer maneira que seja possível. Os meus lugares não são desespero - são refúgios para onde sempre posso voltar.

A primeira vez em que encontrei um dos meus lugares foi aos pés de uma cruz. Não aquela cruz da opressão - a minha era um símbolo de amor. Eu fui tão acolhida por aquela cruz que, todos os dias quando a imagem daquele Amor é distorcida, transformada em ódio ou em piada, eu me entristeço. A cruz do ódio nunca foi o meu lugar. A cruz do amor é pra onde sempre vou voltar. Foi a cruz do Amor que mostrou meu pertencimento e meu primeiro propósito: SERVIR.

Alguns anos depois, encontrei outro lugar em um projeto enorme, cheio de universitários que cumpriam o propósito que eu já conhecia. Era ali, descobrindo que sozinho é muito mais difícil, que os meus braços conseguem carregar 20 quilos de arroz, mas jamais conseguiriam carregar 20 toneladas de uma vez só. Esse lugar permanece na memória, nas redes sociais e continua ficando cada vez maior e mais ousado. Cada vez mais me traz orgulho e otimismo.

Como o primeiro lugar, me fiz parte de um lugar chamado amor - mas esse era diferente. Eram vários lugares em um. Na forma de um apartamento, de reuniões, de panquecas e de um rapaz tão especial que foi ficando, ficando e me aninhou. O amor me acolheu em amizades sinceras, em uma família tão divertida e diferente da que nasci! Eu não precisei fingir, nem me camuflar, nem me endividar para estar ali: o amor sempre tinha uma comidinha quente no fogão e uma coberta pra me proteger do frio, mesmo que eu estivesse irritada, nervosa, triste ou cansada. Hoje, o amor é o meu lugar preferido. Nele descanso, me reinvento, choro, grito e me aconchego. O amor me deu forças pra aprender meu segundo propósito: MELHORAR.

Ainda busco meu lugar numa jornada profissional. Essa sim tem sido meu maior desafio. Os lugares onde passei e tentava me encaixar sabiam que eu não era suficiente. Por consequência, eu me dizia isso todos os dias também. Será mesmo que é apenas uma assinatura que diz o que eu sou capaz de fazer? Será mesmo que pra me sustentar eu tenho que trabalhar todos os dias me sentindo uma sabotadora profissional? Minha jornada tem escolhas, e sou privilegiada por isso. Minhas entrevistas de emprego são completamente honestas, não vou mentir e dizer que tenho experiência em vendas. Não vou mentir e dizer que meu francês é fluente. Não vou mentir que a minha agenda está cheia pra gerar no outro um sentimento de urgência - os meus primeiros lugares não me permitem mentir. Em tantos lugares tentei pertencer... em tantos outros saí frustrada, desiludida, nervosa. Aprendi meus propósitos de melhorar e de servir TÊM de pertencer a esse novo lugar, caso contrário, eu estou caindo fora.

Felizmente, meu propósito no amor, o de MELHORAR, tem me colocado pra dormir todas as noites agradecida. Infelizmente, tenho falhado miseravelmente no meu propósito de SERVIR, quando penso no mundo lá fora, por isso esse exercício de encontrar meus lugares se torna tão dolorido nesse momento histórico em que estou vivendo. Encontrar meu lugar nesse mundo novo, diferente, ainda é o maior desafio da minha vida até aqui. Ainda bem que eu estudei meus mapas.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Isolada

Isolada.

Hoje, na história da humanidade, estou
Isolada.

Isolada.
Grandes problemas lá fora.
Caos nos hospitais,
caos na economia,
caos na política brasileira,
caos na minha mente,
caos na geladeira,
caos no mundo inteiro.
Mas o caos grita dentro de mim todos os dias que estou
Isolada.

Isolada.
Não vejo mais as notícias pra não adoecer
de ansiedade, desespero e desgosto.
A falta de empatia me machuca,
a falta de responsabilidade coletiva é irritante,
a falta de entendimento
faz com que eu tenha vontade de vomitar.
E continuo
Isolada.

Isolada
Mês passado organizei tudo que era possível.
Semana passada me obriguei a fazer exercício todos os dias.
Ontem fiz um calendário de cursos.
E hoje, ao invés de reclamar do mercado de trabalho,
das circunstâncias, do vento, do sol ou da chuva,
agradeci o privilégio do teto, do sustento e da saúde.
Meus agradecimentos todos os dias me lembram que,
além de privilegiada, estou
Isolada.

Isolada.
Mês passado tinha planos pro futuro.
Semana passada chorei de saudade e arrumei uma máscara.
Ontem descobri que meus sorrisos não morreram.
Hoje, amizades continuam se solidificando no meio da crise,
continuo encontrando um caminho de esperança.
A jornada diária nunca é fácil,
especialmente enquanto continuo
Isolada.

Isolada
Descobri que o trabalho,
assim como o mundo,
a economia e as mentes,
tudo isso se transforma.
Descobri que a diferença entre essencial e supérfluo
era subestimada.
Descobri que em meio ao caos
também existem flores.
Descobri uma vontade insana de viver.
Descobri que minhas metas mudam, se renovam.
E por um momento,
num vislumbrar do futuro,
não me sentia mais
Isolada.

Isolada.
Olhei pra dentro de mim e lembrei
das infinitas mudanças,
de todos os caminhos percorridos até aqui
Sobrevivi a todos os dias ruins,
apesar de toda ignorância,
apesar de todo preconceito,
apesar de todo estereótipo.

Olhei pra dentro de mim e lembrei
que O amor maior me move,
todos os dias, me traz esperança,
me faz contar até 3 e fazer
o que quer que seja que precise ser feito.
Me faz chorar
o quão necessário seja pra chorar,
por saber que no final do sofrimento
existe um aprendizado,
uma resiliência sem precedentes.
Me faz descansar no meio do temporal,
mostrando os abrigos mais inusitados e
necessários pra minha sobrevivência.

Olhei pra mim e percebi
que dentro de mim eu não estava mais
Isolada.

domingo, 22 de março de 2020

O que nos faz humanos em tempo de pandemia (e umas dicas)

A cada dia as informações sobre a pandemia são bombardeadas em nossas telas, trazendo diversos sentimentos e reações pra cada um. Quando a doença era algo local, escondido do outro lado do mundo, nós estávamos vivendo normalmente nossos dias acelerados e rotinas malucas. Hoje podemos observar o mundo parando, pouco a pouco, diante de uma ameaça invisível. Os mais frágeis entre nós temem, os mais fortes começam a entender o que significa responsabilidade social e, enclausurados, começamos a refletir sobre o impacto dos indivíduos diante do todo. Hoje, o que nos faz humanos nos une. Quando descobrimos que, nos primórdios da humanidade, uma ossada tinha um fêmur curado, podemos entender que os conceitos de proteção, empatia e cuidado já estavam inerentes ao ser humano desde então.

Mesmo em meio a tantas notícias tristes, como humanos, o aprendizado em tempos difíceis é importantíssimo. A capacidade de planejamento e resolução de problemas deve nos guiar em meio a tempos de crise. Ainda que existam pessoas que não recebam informação, não recebam informação correta ou ainda compartilhem informação falsa, a grande maioria escolhe se conscientizar e cuidar uns dos outros: por isso ainda estamos vivos. Pessoalmente, acredito sim, que existem mais pessoas que, em essência, são boas, do que ruins. Em meio a um mar de brigas por álcool em gel, em meio às dificuldades econômicas, em meio aos supermercados vazios e com a empatia em falta também, acredito que os que se conscientizam são a maioria. Os que ajudam seus vizinhos são a maioria. Os médicos, enfermeiros, pesquisadores e inclusive os faxineiros dos hospitais que se doam e trabalham sem parar nesses dias são a grande maioria.

Nesse momento, o que nos faz humanos, está sendo negado em prol de um bem maior. Negamos o contato, o abraço, o beijo, o carinho, o acolhimento para proteger os mais frágeis entre nós. Não é fácil negar nossa natureza, mas hoje, se torna necessário. Olhar com empatia para os profissionais da saúde e entender que é minha a responsabilidade de amenizar o ritmo de serviço deles é o que nos faz humanidade.

Nesse momento, aprendemos a diminuir o ritmo. Aprendemos que, sem a nossa influência, a natureza sempre busca seu equilíbrio. Aprendemos que ficar em casa pode ser mais difícil do que parece por desaprendermos a sossegar. Aprendemos que, a música, mesmo em sacadas de janelas, também nos une e, muitas vezes, é um símbolo de resistência e de confiança em momentos de crise. Aprendemos a importância do conhecimento, do entretenimento e até mesmo de redescobrir novos hobbies. Aprendemos a importância do planejamento financeiro e de uma reserva de emergência. Buscamos o conforto e acalento nos meios virtuais, tão presentes em nossa vida cotidiana.

Agora, pessoalmente, flutuo diariamente entre notícias boas e ruins, mas venho trazer minhas humildes experiências.

Aos que frequentam uma igreja, ou mesmo os que tem algum tipo de preconceito, agora é a hora de assistir as transmissões e descobrir como cada uma funciona para fugir dos noticiários e buscar esperança. Estou muito feliz sobre o funcionamento da minha amada igreja, que já no começo da semana, suspendeu todas as atividades presenciais e que tem transmitido com excelência os estudos e cultos, incluindo para as crianças também. São momentos que geralmente posso acompanhar e estou aproveitando bastante. A conscientização e a busca por compartilhar apenas notícias verídicas no grupo também me traz muita alegria. A responsabilidade social das comunidades religiosas é muito grande nesse momento e eu não poderia estar mais feliz com a maneira como a minha tem conduzido seus membros.

Aos que fazem aniversário por esses dias e estão se sentindo tristes por serem impedidos de comemorar, tenho uma experiência. Em um dos anos da faculdade, sabe-se lá por que, eu passei meu aniversário sozinha por todos estarem atolados de atividades acadêmicas. Foi bem triste, mas, como tenho amigas fofas demais, quase um mês depois, brotaram várias amigas em casa, com bolo e um dos presentes mais significativos da minha vida e foi INCRÍVEL. Dá pra comemorar depois né. Dá pra fazer altas lives pela internet com os amigos no dia e já começar a planejar a festança pra daqui uns meses. Inclusive, hoje é aniversário de um amigo e do meu irmão e amanhã é o aniversário do meu mozão. Infelizmente, tá todo mundo trancado em suas respectivas casas e a comemoração, os abraços e os beijos vão ficar mais pra frente, mas o amor continua.

Por falar em amor, aos que namoram, mas estão distantes dos seus respectivos mozões: namoro à distância a quase 2 anos e meio. Já tenho uma experiência no assunto e posso ajudar, mas segue aí o básico: COMUNICAÇÃO e CONFIANÇA. Eu não duvido que esse período vai abalar muitos relacionamentos, tanto pra quem está confinado na mesma casa, quanto quem está longe, por falta desses dois aspectos fundamentais de qualquer relacionamento. Façam chamadas de vídeo pra amenizar a saudade, assistam filmes e séries juntos e em tempo real e se conversem. Pode ser um tempo precioso pra se desenvolverem.

Por fim, mas não menos importante, aos batedores de perna, que estão surtando por ficarem dentro de casa, vamos agradecer um minutinho por estar protegidos em casa né? Inventa algo que você faria fora de casa aí, tipo ver um filme no cinema, comer uns petiscos no barzinho. Organiza sua vida financeira (tenho planilha e posso ensinar), estuda inglês (também posso ensinar) em plataforma gratuita, aprende a tirar sobrancelha, aprende a fazer a unha, borda, pinta, limpa a casa ao som das suas músicas preferidas, escreve, toma banho de mangueira, aprende a cozinhar uma receita gostosa, faz aquele curso online que você está postergando, arruma os armários e etc. Tem um milhão de coisas possíveis de serem feitas no conforto da sua casinha e, digo mais, outras milhões que podem ser feitas na frente da tela com a bunda confortavelmente colocada no sofá, na cama ou na cadeira. Também deve ter um espacinho aí que você pode estender um tapetinho e fazer uma yoga com aplicativo (recomendo bastante).

O que nos faz humanos em tempo de pandemia são a empatia, a esperança e o planejamento. Sejamos sábios para depositá-los nos lugares certos.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Sobre desemprego e como entendi o trabalho depois disso

Como desempregada por um período de 6 meses, posso oferecer alguma perspectiva sobre o mercado de trabalho atual e como procurar emprego se tornou uma espécie de relacionamento abusivo com algumas empresas. Quero contar experiências e detalhes de como cheguei a me encontrar dando aulas de inglês e me sentindo feliz durante o processo. Pega a pipoca e senta que lá vem história.

Primeiramente, o tal do seguro desemprego e dos benefícios recebidos dão um certo quentinho no coração angustiado do recém desempregado. Apesar disso, tive que modificar toda uma dinâmica de vida e esclarecer melhor alguns limites para não perder a sanidade. Ser encarcerado após um período de liberdade nunca é algo fácil, mas você aprende a conviver e ligar o belíssimo botão do "DANE-SE" para não ligar o do "SURTEI". Graças aos meus aprendizados sobre dinheiro e o grandessíssimo privilégio de ser CLT (já citado anteriormente), tinha uma reserva disponível pra poder me virar por algum tempo.

O tempo desempregada me assustava diariamente. Era estranho sair de uma rotina pré estabelecida de trabalho e voltar para uma similar a de estudante, dado que logo após a demissão comecei a estudar para alguns concursos. O resumo da ópera foi que me senti exatamente como no vestibular, mas era muito, MUITO, MUITO mais concorrido. Só apareci no quinto lugar em um deles, de uma cidade próxima a Presidente Prudente, em cadastro reserva. Ou seja... Gastei uns bons dinheiros e tempos que não renderam muito resultado.

Algumas alternativas de renda extra surgiram, mas me descobri incrivelmente PÉSSIMA vendedora. Continuo apenas com catálogo de lingerie por ser uma marca e um produto que eu pessoalmente gosto e que vale a pena, financeiramente falando. Deus abençoe as vendedoras de cosméticos por catálogo, eu realmente ainda não consegui desenvolver talento suficiente para tal. Além disso, aleatoriamente, cheguei a trabalhar como atendente de papelaria, mas por uns problemas de saúde não durei nem uma semana na função e novamente, meus parabéns para todos os vendedores e comerciantes por que não é nada fácil trabalhar o dia todo em pé, no calor e atendendo cliente confuso. Toda essa experiência me fez ter MUITO mais respeito e empatia (do que eu já tinha) por esses profissionais e perceber o quão privilegiada sou por ter outras alternativas além dessas.

As experiências citadas acima dependiam quase que exclusivamente do meu desempenho e dedicação, mas meu amigo, se você está no mundo de entrevistas e envio de currículo, deve saber que não é NADA fácil contar com o RH das empresas. Tive exemplos bons, ruins e PÉSSIMOS e seguirei lhes contando mais sobre eles.

É claro que contaremos primeiro o péssimo, por ser o que mais me marcou. Fiz duas vezes a mesma entrevista, uma vez diretamente com a gestora da loja e outra com uma empresa de RH. O melhor dessa história: não tive retorno em nenhum dos casos. Juro que, se hoje a empresa ou um RH que a represente me ligar vai tomar um xingo bem educado para entender que o tempo e o dinheiro dos outros não é mato, especialmente se você está desempregado. Tento ser uma pessoa equilibrada, mas a falta de respeito realmente me tira do sério. Inclusive, mesmo que a loja preste um serviço excelente e de qualidade, jamais a recomendaria. Descobri que a maneira como você trata os funcionários (e os futuros também) é um reflexo imediato do funcionamento da empresa e essa claramente não exala responsabilidade nem respeito com o próximo, características indispensáveis pra mim.

Outro caso peculiar é o de uma empresa antiga no mercado em Americana, que entrou em contato no ano passado sobre uma vaga de estágio (na qual eu não me qualificava). Tinha enviado meu currículo por email e expliquei a situação pelo telefone, dizendo que já era formada. Como calhou de ser nos dias do trabalho na papelaria, fiz a entrevista por telefone, explicando a situação ao gestor, que me informou a tal da contratação MEI para casos como o meu. Surtei. Não sabia como seria resolvida a papelada, perguntei pra Deus e o mundo e no fim das contas entendi que engenheiro mesmo não pode ser MEI. Mas analista de planejamento ou algo do tipo pode. Fiquei no aguardo do retorno. Duas semanas depois entrei em contato e, não para minha surpresa, a vaga tinha sido preenchida por outra pessoa. Esse ano, enquanto estava fazendo uma visita de um freela de engenharia, o mesmo gestor me mandou mensagem perguntando se eu ainda estava interessada. Pedi para que ele marcasse a entrevista. Até hoje nem sinal. Quem já foi solteiro por muito tempo sabe EXATAMENTE que esse é o tipo de comportamento daquelas criaturas abençoadas que te deixam como backup e só lembram que você existe depois de se sentirem sozinhas e tristes. Sei que pode ter acontecido uma falha de comunicação entre o gestor e o RH, ou que talvez eu realmente não seja qualificada pra vaga. Ainda assim, era meu direito ser comunicada.

Uma situação inusitada ocorreu com outra empresa pequena de engenharia aqui em Americana mesmo.  Fiz a entrevista ano passado para um cargo administrativo e o responsável escolheu outra pessoa por conta do meu currículo, me prometendo que assim que surgisse uma vaga na área de engenharia, o que seria breve, ele me chamaria antes de abrir para outros candidatos. E assim o fez. Ainda estamos conversando e ainda estou avaliando a ideia, mas a honestidade é sempre o que me chama atenção, especialmente em entrevistas de emprego.

De feedbacks positivos pós entrevistas só tive 2. Uma empresa em Campinas cumpriu com o prometido e me avisou que eu não era qualificada para a vaga por email. Também pudera: não tinha experiência pra vaga. E pra finalizar o papo, outro feedback positivo foi feito pela empresa em que estou trabalhando agora, ainda como experiência, dando aulas de inglês. Sim, uma engenheira dando aulas de inglês, por que não? A entrevista foi extremamente honesta, o tratamento como empregada é extremamente respeitoso e estou muito satisfeita me descobrindo professora, trabalhando tranquila transmitindo conhecimento e no ar condicionado, extremamente diferente de um ambiente de obra. Não imaginava ser apta a dar aulas de inglês, mas estou feliz por descobrir essa nova habilidade. Vale ressaltar que não tive aulas de inglês em escolas particulares (exceto as da escola comum) e aprendi muito no feeling, mas é difícil. Desde os 12 ou 13 anos que me dedico a entender o que falo/escuto em músicas, filmes e séries. Acho válido o processo de aprender inglês mais rápido, diferentemente de como aprendi, e estou gostando MUITO do método apresentado a mim para ensinar. Como curiosa por conceitos de psicologia, também posso entender umas coisinhas a mais nesse processo.

Depois de todas essas experiências, tenho entendido e enxergado o trabalho de outra forma. Hoje (espero não ter esse discurso no futuro), devidas as exceções, a mão de obra de engenharia está sendo escancaradamente explorada. Uma profissão que te exige 5 anos de graduação e experiência na função tem como salário R$ 2.000,00, o que não dá 2 salários mínimos. Garanto que o salário não passa de R$ 3.000,00 em 90% das vagas oferecidas a engenheiros junior ou os famosos ANALISTAS de engenharia, que quem é da área sabe que esse cargo só serve pra poder te pagar um salário inferior ao de engenheiro, ainda que você exerça a mesma função. Nessa vibe de vaga de analista, desisti de uma dinâmica de entrevista que aconteceria em um sábado. Já tinha viagem programada há uns CINCO meses, e coloquei na balança se valia a pena. Decidi que não. Tomara que outra pessoa seja feliz na função.

A gente só entende, de fato, a luta quando a bomba cai no nosso quintal. Hoje entendo melhor o lamento de professores, que são profissionais tão necessários e tão mal pagos. O trabalhar o tempo todo sem retorno financeiro ou profissional permeia nossas realidades de forma dura e constante. Muitos dos discursos que ouço de amigos têm essa narrativa. Felizmente, alguns andam se descobrindo profissionais incríveis, balizando o que compensa e o que se dispensa na profissão. Para quem ainda tem, lá no fundo, o sonho de mudar realidades através do mercado da construção civil eu desejo muita motivação e esforço, mas lamento informar que às vezes essas características vão te deixar acordado várias noites e pode ser difícil fazer as contas fecharem no fim do mês. É triste ser realista e te informar isso mas... sua carreira dos sonhos pode não ser o suficiente pra pagar seus boletos. Você está disposto a enfrentar essa realidade?

Eu, por enquanto, sigo me descobrindo como profissional, na engenharia e fora dela. Meu destino não é mais escrito em pedra, mas meus caminhos agora buscam colocar meus sonhos em metas para que se tornem reais. Meu discurso de estar feliz dando aulas cala a boca de muita gente. Quem está mal intencionado vai ter mais dificuldade de te criticar se você está feliz, é impressionante. Além disso, aprendi a compartilhar novidades com quem me apoia ou me alerta caso eu esteja entrando em uma fria sem perceber. São poucas e boas pessoas assim na minha vida. Quero utilizar essa nova visão de trabalho, um lugar pra ser respeitado e recompensado de acordo com o seu esforço, para tomar decisões profissionais e ter equilíbrio nessa área da vida também.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Retrospectiva para lembrar de ser melhor

2019 foi um dos anos em que menos escrevi nesse espaço perdido da internet, mas também foi um dos anos em que passei mais tempo ouvindo e entendendo a vida.

Em janeiro, após mais uma mudança de cidade, estava confortável. Mudei pra cidade que conhecia, que ainda tinha amigos meus. Lógico que não percebi o perigo disso logo de cara, mas estar confortável às vezes te deixa acomodado. E foi exatamente isso que aconteceu.

O cansaço da rotina de viagens diárias estava presente e algumas reviravoltas profissionais me deram um pouco menos de fôlego pra continuar. Embora mudanças contínuas na rotina de trabalho continuassem acontecendo e me deixando bem maluca, vivia experiências que funcionavam como uma nova respirada pra quem está submerso e me traziam um pouco de esperança. Uma dessas experiências foi uma programação de uma semana inteira que aconteceu em fevereiro, com apresentações de todos os setores da empresa, reunindo os guerreiros de obra do Brasil inteiro (minhas inspirações pessoais) e me fazendo entender horizontes, discordar e concordar com muitas ideias. Eu sabia que as coisas iam mudar ali e que tudo seria diferente em pouco tempo. Essa semana teve fim com um rafting, lá em Brotas, o que foi surreal de bom. Fazia muito tempo que eu não me divertia e cansava tanto.


Conheci também estagiários... e como era bom tê-los! Desde a minha experiência com o Natal não me lembrava muito bem como era delegar tarefas e organizar rotinas, mas estar com pessoas com tanta força de vontade, tanta determinação e tanto entusiasmo me fazia crescer absurdamente. Muitas vezes, eles eram a vitalidade que talvez eu já não tivesse, veja bem. Acho que se a gente parar pra prestar atenção, é impressionante como a força dos mais jovens pode te motivar a ser melhor e fazer mais, com uma atitude responsável, primeiro por você, e depois por eles.

Quando minha rotina foi transferida para o escritório, já tinha ganhado uns bons 10 quilos por ser indisciplinada com minha alimentação enquanto estava fora de casa. Morar em São Carlos engorda, estejam avisados. Nesse tempo, aprendi muito. Conheci mulheres doces e doidas, bem do jeitinho que me descobri sendo. Entendi o que é empreender, o que é se virar nos 30, o que é ser paciente e recebi muitos abraços quentinhos em manhãs são carlenses frias. Meu coração foi grato por isso. Minha rotina de congelar comida e lavar roupa depois de chegar do serviço me fazia bem, velha que sou. Mas né, o coração também alerta a gente e em algum canto dele havia uma plaquinha indicando perigo. Decidi ignorar, achei que não era importante. A verdade é que alguns meses passaram e eu continuei sendo a peça que não dava encaixe. Quando comecei a ter enxaquecas frequentes, azia e gripes sem fim, decidi ignorar. Não podia parar minha rotina com datas de entrega tão próximas para ir ao médico. Um PS e uma farmácia bastavam.

Quando fui demitida doeu. Doeu por ser um período de tanto aprendizado que foi interrompido. Doeu por ter sido como observar uma criança que estava aprendendo a balbuciar as primeiras palavras (por que quando cheguei já não havia bebê, o projeto já tinha nascido), e abandoná-la quando ela tivesse aprendido a se expressar (e com muita desenvoltura). Eu não estaria mais presente para ajudar na formação de seu caráter.

Apesar de doer, a gratidão ainda me cura diariamente. Todo o meu aprendizado me tornou melhor, me fez crescer e contemplar mundos que nem em sonho imaginava que existissem. Contrastes como estar na Faria Lima e logo em seguida na favela me traziam inspiração. Profissionais que conheci me fazem acreditar que um mundo melhor é formado por pessoas melhores e mais capacitadas, mas também mais empáticas. Minha profissão deve ser para o mundo, por que, no dia em que for apenas pra mim mesma, estou condenada.

Vale a pena ressaltar que passei meu aniversário MAL. De verdade. E tudo bem. Nem sempre a gente vai estar bem e essa é uma verdade dura de lidar, mas que esteve presente em TODOS os dias de 2019. Nesse, em especial, estava com uma virose muito da maluca que já durava 3 semanas (e ainda durou mais uma). Apenas desconfio (por ainda não ter lembrado de me pesar), que uma parte dos meus 10 quilos engordados foram emagrecidos nesse meio tempo, por que meus shorts antigos voltaram a servir. Que fique registrado que fiquei mais feliz por ter resgatado minhas roupas antigas do que por ter perdido peso. E que estou vivendo pra não engordar tudo de novo, por que sei que esses quilos que perdi afetam bastante minha disposição e saúde. Lembro como eram sofridos os 20 minutos de yoga que hoje faço quase sem suar. As enxaquecas diminuíram drasticamente de frequência, tanto que, nem lembro quando foi a última. A boa e velha gratidão sempre vem, queridos, mas ela vem por que a convido e me permito olhar pra situações não tão agradáveis com outra lente.

Nesses meses que se seguiram, voltei a morar em Americana, como há 6 anos não estava, e tentei me descobrir como profissional, mas a verdade é que não cheguei em lugar nenhum. Não tentei o suficiente, ou talvez não exista resposta mesmo. Testar possibilidades, tentar fazer um dinheirinho a parte e não desanimar diante da monotonia têm sido minhas metas diárias. Felizmente, agora no final do ano, a vida começou a se agitar e oportunidades novas estão aparecendo.

Rapaz, vamos falar de dinheiro antes que eu encerre essa retrospectiva meio doida da cabeça. Em 2019 aprendi muuuuuuuuuuito sobre dinheiro, sobre como ele funciona como funcionário e como tenho que priorizar metas e me virar com o resto. Vejo que muita gente morre de medo de falar sobre dinheiro, que não tem a mínima noção do que significam essas quedas sucessivas da SELIC ou ainda, que têm certeza que o dinheiro é coisa do tinhoso. Venho por meio desta desdemonizar esse aspecto da vida tão comum pra todos nós (a menos que você seja um heremita). Planejamento é uma das chaves, conhecimento é outra, mas libertação de padrões desnecessários é a mais importante. Não é por que todo mundo tem que você precisa ter. Não é por que tem dinheiro na conta que dá pra comprar. Não é por que o cartão de crédito te deu o limite que você pode gastar tudo. A única vez que cheguei no limite do meu cartão foi com despesas de viagem da empresa, que seriam reembolsadas.  Confiar na providência divina é ser um bom administrador daquilo que nos é dado e também buscar alternativas para chegar mais longe. Confesso que tenho falhado em alguns aspectos, mas continuo aprendendo. Sem um salário regular caindo todo mês na minha conta, comecei a usar da minha reserva de emergência e buscar fontes alternativas de renda.

É muito importante que a gente entenda e tenha disciplina de poupar pra poder realizar mais coisas e doar de coração aberto. É importante que a gente sonhe, mas que não apresse sonhos que envolvam gastar dinheiro. Geralmente temos pressa, pulamos sem saber se o paraquedas vai abrir. Na maioria dos casos, para doar, é necessário ter primeiro. Só consigo amar por que fui amada; primeiro recebi, depois doei. Só consigo ensinar por que já fui transformada pelo conhecimento. E olha, o conhecimento transforma viu... Transforma medos em frio na barriga e rodinha nos pés. Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. E a Verdade vos amparará. E vos será companhia, dia e noite, nos perrengues e nas conquistas.

Junto com todo esse caos que é a vida, um aspecto se manteve constante nos meus dias e ele atende por Paulo, Paulinho, ou Paulo Afonso. Meu engenheiro preferido, companhia, ainda que às vezes virtual, pras noites curtas (por que a gente é velho e vai dormir cedo), uma das forças da natureza que me move e meu amor. Com ele aprendi a confiar, a me esforçar e a me superar. Aprendi muitas coisas tecnológicas e aleatórias em que ele é especialista e aprendi que resiliência é muito mais do que um textão de Facebook. Aprendi que resiliência é acordar todo dia e fazer, sair da inércia e da zona de conforto. Aprendi que resiliência é, às vezes, deixar alguns brigas pra lá e usar minha energia para algo mais produtivo. Meu companheiro de jornada faz dela cada dia mais desafiadora, não por brigas, nem por pressões desnecessárias, mas por me incentivar a ser melhor, por mim mesma, não pelos outros. Faz com que a realidade se ajuste. Apesar do pavor por crianças, tem coração de menino. E apesar das minhas muitas lágrimas, loucuras e reclamações, faz meus dias muito mais felizes.

Confesso que os meses foram passando sem que eu me desse muito conta. Felizmente, os amigos da faculdade continuam firmes e fortes, embora cada um esteja em um canto de São Paulo agora, quase dois anos depois de formados. Consegui me reunir com a família que a UFSCar me deu com alguma frequência e, mesmo distantes, compartilhamos as alegrias e os perrengues que a engenharia nos trouxe.

De todos os conselhos que poderia dar pro ano que começa, digo pra que você cultive boas companhias. Escolha um companheiro de jornada que te incentive, te admire e te envolva quando os inevitáveis dias ruins vierem. Dê influência pra quem te faz crescer. Escute as críticas de quem já te elogiou, de quem acredita em você e preste bastante atenção nelas. É muito difícil encontrar alguém que não nos deixa acomodados na mesmice de nós mesmos, mas que ao mesmo tempo te admire por quem você é hoje. Se você tem pessoas assim, cultive-as em 2020.

De 2020 só espero novidade e aprendizado. Que venha trazendo dias bons, ruins, dores e desafios. É tão certo como o sol nasce amanhã que a misericórdia e a gratidão vêm junto. De resto a gente vai à luta. Que 2020 traga menos enxaquecas e mais empatia. Menos rancor e mais desenvolvimento pessoal e profissional. Menos fofoca e mais conexão. E que a gente saiba ser melhor do que é hoje.

domingo, 6 de outubro de 2019

O que a sua responsabilidade ensina


Pra quem já leu alguns dos textos mais antigos desse espaço perdido da internet, sabe o quanto empatia é importante pra mim. Mas demorou ANOS, muitos deles, pra que eu percebesse a diferença entre ter empatia com a dor do outro e assumir responsabilidades por decisões que não são minhas.

De um jeito ou de outro, dadas as devidas proporções, nós somos responsáveis por nós mesmos. O que nos afeta, o que nos traz alegria, o que nos satisfaz e tudo o que nos traz contentamento. Nós somos responsáveis por fazer escolhas o tempo todo e também responsáveis por colher as consequências delas. Se essa informação te deixa inquieto, não é pra menos. Nascemos com a ideia fixa de lançar as culpas (e as consequências delas) em cima do primeiro que aparece, quando na verdade, o primeiro que aparece sou eu mesma.

Outra coisa que demorou ANOS, mas que graças a Deus, aconteceu e continua acontecendo, é a consciência de que não sou a vítima na minha história. Eu sou quem a vive e a protagoniza, mesmo acreditando que não sou quem a escreve. Graças a Deus, de novo!

Sendo assim, um momento bizarro de claridade e consciência me trouxe à tona uma verdade incrível: a opinião alheia sobre mim não é minha responsabilidade. Logo, por que me importaria tanto a respeito disso? Por que isso roubaria a minha paz, meu contentamento, meus objetivos de vida? Eis que a verdade da única opinião que importa, me libertará (e me liberta diariamente). Sem entender onde começou, mas consciente disso por alguns bons anos, essa importância tão grande, se tornou ínfima.
 
A empatia me chama pra dançar todos os dias, mas a minha responsabilidade me traz de volta à realidade quando a menina que quer consertar o mundo inteiro de uma vez aparece. "Não são suas escolhas, não é a sua vida", é o que a responsabilidade diz. Não se engane: a empatia vem avassaladora e os conselhos também, quando solicitados. A minha responsabilidade também me ensinou a não mais oferecer conselhos quando não forem solicitados.

Descobri ainda, que a minha responsabilidade também tem um papel importante na manutenção do equilíbrio emocional. Eu sou a responsável por manejar meus sentimentos doidos dentro de mim. Quem aperta meus botões do Divertidamente sou eu. É claro que sem a ajuda jamais chegaria até aqui ou teria tido essa conclusão. Mas já parou pra pensar em o quanto comportamentos alheios, que não podemos controlar mas olha, nem os meus eu consigo às vezes, nos afetam? Mudamos de humor em um segundo por conta de ações alheias. A reação é, novamente adivinha!, nossa responsabilidade.

Por que dar tanto poder a uma reação ou sentimento que nem tem relação com as nossas escolhas? Quando essa pergunta é respondida, a energia da reação (ela continua existindo, mas de um jeito diferente), vai por outro caminho. E então, é possível continuar a desenhar na areia quando aparecem pessoas furiosas com o erro de outra pessoa, querendo puni-la. É possível deixar os julgamentos de lado e enxergar sob outra perspectiva. É possível entender a ferida, sem salgá-la. Minha atenção é gasta na pacificação, no acolhimento e no abrir de olhos. A atenção do outro, que foi o responsável por causar tanto alvoroço, é despertada para o conselho. "Vai, e não peques mais". 

Precisamos aprender diariamente a bater ao invés de arrombar portas. A consequência de um arrombamento é o conserto da porta, que, eventualmente, é minha responsabilidade. Não seria um cenário melhor bater à porta, aguardar e ser recebido, para que a consequência seja entrar e tomar uma xícara de café?

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Sobre piloto automático e sentar no meio do caminho

Talvez você nunca tenha tido tempo de parar de viver no automático. Seguiu em frente, sem olhar muito as placas indicando novos caminhos, se viu amedrontado por possibilidades de mudança e não se permitiu amadurecer, crescer ou aceitar decisões difíceis. Sou grata, muito grata, por que tive oportunidade de sentar no meio da estrada pra me permitir parar de viver no automático.
Meu caminho me fez grande. Me libertou. Caminhar me mostrou o quão longe eu poderia ir sem precisar ter medo do futuro. Caminhar em meio aos pallets de blocos e caminhões betoneira me transformou, virou a chave. Viajar sem ter tudo milimetricamente planejado ou sem me exaurir de ansiedade semanas antes me fez livre. Mostrou que eu poderia. Que eu voaria.
Minha vida fora da gaiola era interessante, mas eu sentia uma falta enorme da rotina. Falta de um lar, de paredes fixas, de dormir na mesma cama por 3 noites consecutivas. Os aventureiros que me perdoem, mas amo um ninho bem feito. Quando finalmente a rotina me pertencia e estava prestes a dar o próximo passo, tive de seguir uma placa na estrada que ninguém quer caminhar. Desempregada.
Sentei no meio do caminho. De 12 horas por dia de trabalho, a zero, em um piscar de olhos. A freada brusca interrompia um caminho que sabe-se lá onde iria chegar. Exaustão profissional? Descontentamento? Euforia momentânea? Uma revolução na construção civil? Eu não sei, mas espero que a última possibilidade se prove cada dia mais real. Sou grata por não saber. Sou grata por ter aprendido, em tantos níveis, os valores de várias gerações. Por ter convivido com tantas diferenças, passado por tantos perrengues e sobrevivido. Por ter aprendido sobre a profissão, por ter ensinado, por ter tido fim. Não me encaixava perfeitamente, é até engraçado. Faz pouco tempo que tive a oportunidade de tentar montar aqueles quebra cabeças gigantes e descobri que, se o encaixe é estranho, está errado. Se a peça fica faltando uma curvinha que seja, está errado. Sou grata, acredito que estava faltando uma curvinha para o meu encaixe.
Sentada no meio da estrada, analisei possibilidades. Deixei ir aquilo que já sabia que não encaixaria. Fui descartada em possibilidades que gostaria de me encaixar. Até que percebi que de nada adianta sentar-se no meio dos caminhos. Você precisa se mexer. A vida é o que acontece enquanto você espera. Redescobri a vocação de servir, minha cabeça pensa melhor através das necessidades dos outros. Atendê-las talvez seja meu chamado, dentro da minha profissão. Mudar pequenas realidades, como é que tinha me esquecido disso? Estava no piloto automático. Vivendo por viver. Agora entendi que primeiro é a minha realidade que muda e o que sobram são as metas, os planejamentos e, é claro, o caminho a ser percorrido. Felizmente não vou sozinha, tenho ajuda. Descobrir objetivos aos 26 é bem legal, é uma oportunidade única. Não dá pra parar no meio do caminho nem viver no piloto automático. Não dá pra caminhar de olhos vendados, sem enxergar o próprio caminho. Mas é possível descobrir sua casa na próxima esquina. É possível encontrar seu lar mais perto do que você imagina, sem nunca ter esquecido os percalços da caminhada. É possível sentir-se livre, ainda que despedaçado. É possível sentir-se forte, ainda que o choro venha. É possível caminhar e contemplar a vista e, ainda que ela ainda não nos agrade, saber que a paisagem mais linda vai estar logo ali, na esquina. E digo mais: essa paisagem todinha foi construída durante a minha caminhada. Passo por passo, tijolo por tijolo, decisão por decisão. Sou eu a responsável pelas minhas decisões e ninguém mais.