domingo, 20 de dezembro de 2020

Retrospectiva 2020 e uma odisseia de fatos inacreditáveis

Coitada da Bruna do passado que desejou "menos enxaquecas e mais empatia" pra esse ano. Mal sabia ela que viveria, em "live action", uma versão esquisita, tediosa e enfurecedora de The Walking Dead, e, justamente pela falta de empatia, teria várias enxaquecas.

Mas o ano começou como qualquer outro, bem tranquilo. A até então desempregada que eu era estava otimista - ou tentando - após seis meses fora do mercado. Esse tempo me fez experimentar sentimentos muito ruins a respeito de mim mesma e duvidar de tudo. Coitado do Paulo que era meu ombro dia e noite e me aturou chorando e reclamando por longos meses. Mas, ainda assim, em fevereiro, deu praia. E foi bom ver o mar de novo, ainda que só por um fim de semana.

Nesses dias, já estava começando a dar aulas de inglês em uma escola, aprendendo mais sobre o idioma e sobre o processo de aprendizado. Era tão louco pra mim, ser formada numa área completamente diferente, mas estar gostando do  processo. Pelo menos eu estava me movimentando e, mal sabia, que esse seria o início de uma jornada inesperada com o inglês. E com a pandemia.

Logo veio o carnaval e, de novo, estava ruim de saúde. Não faço ideia do BO que deu, mas meu boleto da Unimed sentiu aqueles 20 dias que estava ruim e passei por um monte de médicos. Logo que melhorei dessa nhaca toda, comecei a trabalhar acompanhando obra novamente, quinze dias antes desse pandemônio. Que experiência doida. 15 dias acompanhando tudo que há de mais doido e improvisado na engenharia - e o problema volta sempre pra má gestão das pessoas. 15 dias antes da pandemia chegar aqui eu já estava usando máscaras, mas era dentro dos lugares com bichinhos, pra não contaminar eles, veja bem.

Paramos. A pandemia estourou no final de semana em que veria meus amigos e comemoraria o aniversário do namorado. O baque foi grande. 15 dias depois, vendo que, obviamente as coisas não iam voltar ao normal tão cedo, fui dispensada do acompanhamento de obra e, pela segunda vez sendo dispensada, me senti aliviada. Essa experiência me fez entender que não adianta tentar se encaixar onde você, seus princípios e valores não se encaixam. E então entrei na fossa do Covid, como muitos estavam em abril.

Não sabia o que estava acontecendo, noticias novas todos os dias, casos subindo rapidamente, hospitais em estado caótico. Estava enrolada dentro de mim mesma, insegura, com medo do futuro e, acima de tudo, triste. O distanciamento e o uso de máscaras se tornaram comuns e nesse meio tempo, fui impulsionada a continuar dando aulas de inglês, mas dessa vez, online. 

Aí, nesse ambiente online, conheci a Ih, Aprendi, que foi um choque de realidade. Estudei pra poder melhorar minhas aulas. Falei MUITO em inglês, vários assuntos, e me senti livre pra me comunicar. Tirei as últimas amarras de falar em público que existiam em mim. Cresci como pessoa, melhorei meu inglês e me desafiei de várias maneiras sem gastar um real, no meio de uma pandemia mundial. Foi louco esse ano, já falei isso nesse texto?

Redescobri meu corpo através das asanas da yoga de novo. Fui disciplinada por um período de tempo e meu corpo sentiu a diferença. Muito mais energia e disposição. Através da dança do ventre com uma querida amiga de longa data descobri que o exercício faz MUITA diferença e encarei o desafio de dançar - me divertindo no processo - pra me movimentar e me amar um pouco mais.

Redescobri minha história desenterrando minha caixa de bordados. Nela, todas as vezes em que pegava uma linha nova, pensava nas histórias das mulheres da minha família, nas mulheres que geralmente bordavam suas expectativas num casamento durante aquela preparação de enxoval. Isso ainda me toca muito, por que, por mais que elas tenham criado a minha história, sou muito diferente delas. Hoje, meus bordados não são a expectativa de um relacionamento que me salve dos maus olhos da sociedade - eles são minha expressão de liberdade, meu hobbie, minha aquarela. E nem venha falar de perfeição pro meu verso: não foi, não é e provavelmente não será perfeito. Assim como eu. Diferente daqueles bordados, tão lindos, a perfeição nunca mais será um fardo de frustração pra mim.

E logo depois, arrumei um emprego online, onde o já conhecido Planejamento Financeiro era minha função. Eis que nesse tempo me descobri péssima vendedora - não que já não soubesse disso antes. Não me levem a mal, amo Planejamento Financeiro. Mas daí a convencer alguém a me pagar para ajudar a fazer uma mudança dolorida, difícil e falando de um dos assuntos tabus da sociedade é um LONGO caminho. Mas caminhei essa jornada. Pude perceber que o conhecimento que tenho, que considero pouco, é bastante pra outras pessoas. E as fez se movimentar. Se tornaram dispostas a encarar a dura realidade da vida e o melhor: se dispuseram a mudar.

Os meses foram passando rápido, o incômodo dentro de mim crescia, vai saber o porquê. Eu ainda estava deslocada, fora de um eixo, atordoada pela pandemia e dizendo todos os "sims" que poderia. Nas aulas de inglês encontrei um propósito, que já me chamou faz tempo e que, na época, fugi. Ali sou eu mesma, dou bronca, falo que não faço milagre. Não faço mesmo, só mostro o caminho. Se algum professor te prometer que você vai sair o melhor naquilo que está aprendendo - não acredite nele. Mas se você se dispuser a ser o melhor aluno, com o melhor professor, com certeza, impossíveis podem acontecer.

Um mês antes do meu aniversário, com a pandemia acalmando - mais ou menos - numa ligação, uma grata surpresa. Num processo seletivo de duas entrevistas, entrei em uma empresa enorme de engenharia que já admirava desde antes de formada. Durante todo o processo de admissão pude respirar aliviada por ver ali valores que existem em mim. Um novo recomeço na carreira que escolhi aos 20 anos, quase oito anos depois. Comemorei meu aniversário trabalhando muito, o que foi ótimo. Finalmente, não me senti deslocada e ainda mais: muito bem recebida e acolhida.

Mas é 2020 né. Não poderia acabar simples assim. Ao viajar pra conhecer as obras em Araraquara, escolhi a noite e o hotel em que um evento inacreditável aconteceu - um assalto a banco com fuzis, bombas e a coisa toda. Na madrugada, até entender o que estava acontecendo, só conseguia pensar: esse ano só pode estar de brincadeira né não? Qual a chance? Pois é. Fiquei uns dias pensativa a respeito e nenhum sentimento se encaixava muito. Acho que o modo sobrevivência de 2020 já estava ativado há tanto tempo que nem deu pra sentir muito sobre nada.

Esse modo sobrevivência tem me desgastado, e, com certeza, desgastado muitas pessoas. Cheguei na última semana de trabalho de dezembro sentindo como se todo o peso do mundo estivesse sob os meus ombros. Planejei os presentes pra todo mundo, por que de tristeza, esse ano já esgotou as cotas. Agradeci sem parar por ter tido a oportunidade de crescer durante esse ano, enquanto lá fora houve muito luto, muita luta, muitas lágrimas, muita exaustão. Sou muitíssimo privilegiada, assim como você, que me lê.

Eu fiz parte das estatísticas para pesadelos, enxaqueca e bruxismo, tensa pela má administração de recursos e o mau direcionamento da população diante da pandemia. Nunca na vida presenciei tamanha incompetência. Mas o governo só reflete quem somos, e o nervoso certamente não foi só em relação às autoridades - ainda tem gente indo pro bar como se fosse uma quinta qualquer de 2019. Ainda tem gente andando com o nariz fora da máscara. Ainda tem muita gente sendo negligente com a saúde do próximo. A humanidade sempre me decepciona, mas não me surpreende mais - o modo sobrevivência parou de ver notícias e olha o instagram com muito cuidado pra não ficar irritada.

Não sou iludida o suficiente pra crer que um novo ano vai mudar todo o cenário e fazer com que as coisas voltem ao "normal". Não quero que o trabalho volte ao normal, amei trabalhar em casa. É certo que existem limitações, pontos negativos e saudade do ambiente de escritório. Mas nada se compara a poder acordar mais tarde, tomar um café tranquila e começar o dia com a cama arrumada. Não me iludo com o "novo normal". Eu ainda quero sair pra tomar um café com os meus amigos, fazer aquele churrascão de Ano Novo e viajar de ônibus sem quase ter uma crise de pânico por que a maioria das pessoas não está nem aí pro uso de máscara - mesmo sendo obrigatório. 

Mas dentro de mim, algo dolorosamente, mudou. As situações me transformaram. Mesmo no desespero, aquela velha paz, conhecida do meu coração, nunca me desencorajou. Mesmo na tristeza, o Amor se demonstrava a mim e, por obrigação e doação, eu o demonstrava a quem pudesse. O virar do ano não vai mudar as circunstâncias, mas o virar da chave dentro de mim, certamente vai.

Que em 2021 cada um possa encarar as situações com as ferramentas internas que construiu em 2020. Que o olhar pra necessidade do próximo seja constante e seja missão, que seja forte, duradouro e verdadeiro o Amor.  E que o modo sobrevivência se afrouxe um pouco, pra permitir que os sentimentos sejam reais novamente.

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