quinta-feira, 30 de abril de 2020

Isolada

Isolada.

Hoje, na história da humanidade, estou
Isolada.

Isolada.
Grandes problemas lá fora.
Caos nos hospitais,
caos na economia,
caos na política brasileira,
caos na minha mente,
caos na geladeira,
caos no mundo inteiro.
Mas o caos grita dentro de mim todos os dias que estou
Isolada.

Isolada.
Não vejo mais as notícias pra não adoecer
de ansiedade, desespero e desgosto.
A falta de empatia me machuca,
a falta de responsabilidade coletiva é irritante,
a falta de entendimento
faz com que eu tenha vontade de vomitar.
E continuo
Isolada.

Isolada
Mês passado organizei tudo que era possível.
Semana passada me obriguei a fazer exercício todos os dias.
Ontem fiz um calendário de cursos.
E hoje, ao invés de reclamar do mercado de trabalho,
das circunstâncias, do vento, do sol ou da chuva,
agradeci o privilégio do teto, do sustento e da saúde.
Meus agradecimentos todos os dias me lembram que,
além de privilegiada, estou
Isolada.

Isolada.
Mês passado tinha planos pro futuro.
Semana passada chorei de saudade e arrumei uma máscara.
Ontem descobri que meus sorrisos não morreram.
Hoje, amizades continuam se solidificando no meio da crise,
continuo encontrando um caminho de esperança.
A jornada diária nunca é fácil,
especialmente enquanto continuo
Isolada.

Isolada
Descobri que o trabalho,
assim como o mundo,
a economia e as mentes,
tudo isso se transforma.
Descobri que a diferença entre essencial e supérfluo
era subestimada.
Descobri que em meio ao caos
também existem flores.
Descobri uma vontade insana de viver.
Descobri que minhas metas mudam, se renovam.
E por um momento,
num vislumbrar do futuro,
não me sentia mais
Isolada.

Isolada.
Olhei pra dentro de mim e lembrei
das infinitas mudanças,
de todos os caminhos percorridos até aqui
Sobrevivi a todos os dias ruins,
apesar de toda ignorância,
apesar de todo preconceito,
apesar de todo estereótipo.

Olhei pra dentro de mim e lembrei
que O amor maior me move,
todos os dias, me traz esperança,
me faz contar até 3 e fazer
o que quer que seja que precise ser feito.
Me faz chorar
o quão necessário seja pra chorar,
por saber que no final do sofrimento
existe um aprendizado,
uma resiliência sem precedentes.
Me faz descansar no meio do temporal,
mostrando os abrigos mais inusitados e
necessários pra minha sobrevivência.

Olhei pra mim e percebi
que dentro de mim eu não estava mais
Isolada.

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