terça-feira, 17 de setembro de 2019

Sobre piloto automático e sentar no meio do caminho

Talvez você nunca tenha tido tempo de parar de viver no automático. Seguiu em frente, sem olhar muito as placas indicando novos caminhos, se viu amedrontado por possibilidades de mudança e não se permitiu amadurecer, crescer ou aceitar decisões difíceis. Sou grata, muito grata, por que tive oportunidade de sentar no meio da estrada pra me permitir parar de viver no automático.
Meu caminho me fez grande. Me libertou. Caminhar me mostrou o quão longe eu poderia ir sem precisar ter medo do futuro. Caminhar em meio aos pallets de blocos e caminhões betoneira me transformou, virou a chave. Viajar sem ter tudo milimetricamente planejado ou sem me exaurir de ansiedade semanas antes me fez livre. Mostrou que eu poderia. Que eu voaria.
Minha vida fora da gaiola era interessante, mas eu sentia uma falta enorme da rotina. Falta de um lar, de paredes fixas, de dormir na mesma cama por 3 noites consecutivas. Os aventureiros que me perdoem, mas amo um ninho bem feito. Quando finalmente a rotina me pertencia e estava prestes a dar o próximo passo, tive de seguir uma placa na estrada que ninguém quer caminhar. Desempregada.
Sentei no meio do caminho. De 12 horas por dia de trabalho, a zero, em um piscar de olhos. A freada brusca interrompia um caminho que sabe-se lá onde iria chegar. Exaustão profissional? Descontentamento? Euforia momentânea? Uma revolução na construção civil? Eu não sei, mas espero que a última possibilidade se prove cada dia mais real. Sou grata por não saber. Sou grata por ter aprendido, em tantos níveis, os valores de várias gerações. Por ter convivido com tantas diferenças, passado por tantos perrengues e sobrevivido. Por ter aprendido sobre a profissão, por ter ensinado, por ter tido fim. Não me encaixava perfeitamente, é até engraçado. Faz pouco tempo que tive a oportunidade de tentar montar aqueles quebra cabeças gigantes e descobri que, se o encaixe é estranho, está errado. Se a peça fica faltando uma curvinha que seja, está errado. Sou grata, acredito que estava faltando uma curvinha para o meu encaixe.
Sentada no meio da estrada, analisei possibilidades. Deixei ir aquilo que já sabia que não encaixaria. Fui descartada em possibilidades que gostaria de me encaixar. Até que percebi que de nada adianta sentar-se no meio dos caminhos. Você precisa se mexer. A vida é o que acontece enquanto você espera. Redescobri a vocação de servir, minha cabeça pensa melhor através das necessidades dos outros. Atendê-las talvez seja meu chamado, dentro da minha profissão. Mudar pequenas realidades, como é que tinha me esquecido disso? Estava no piloto automático. Vivendo por viver. Agora entendi que primeiro é a minha realidade que muda e o que sobram são as metas, os planejamentos e, é claro, o caminho a ser percorrido. Felizmente não vou sozinha, tenho ajuda. Descobrir objetivos aos 26 é bem legal, é uma oportunidade única. Não dá pra parar no meio do caminho nem viver no piloto automático. Não dá pra caminhar de olhos vendados, sem enxergar o próprio caminho. Mas é possível descobrir sua casa na próxima esquina. É possível encontrar seu lar mais perto do que você imagina, sem nunca ter esquecido os percalços da caminhada. É possível sentir-se livre, ainda que despedaçado. É possível sentir-se forte, ainda que o choro venha. É possível caminhar e contemplar a vista e, ainda que ela ainda não nos agrade, saber que a paisagem mais linda vai estar logo ali, na esquina. E digo mais: essa paisagem todinha foi construída durante a minha caminhada. Passo por passo, tijolo por tijolo, decisão por decisão. Sou eu a responsável pelas minhas decisões e ninguém mais.

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