quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Retrospectiva para lembrar de ser melhor

2019 foi um dos anos em que menos escrevi nesse espaço perdido da internet, mas também foi um dos anos em que passei mais tempo ouvindo e entendendo a vida.

Em janeiro, após mais uma mudança de cidade, estava confortável. Mudei pra cidade que conhecia, que ainda tinha amigos meus. Lógico que não percebi o perigo disso logo de cara, mas estar confortável às vezes te deixa acomodado. E foi exatamente isso que aconteceu.

O cansaço da rotina de viagens diárias estava presente e algumas reviravoltas profissionais me deram um pouco menos de fôlego pra continuar. Embora mudanças contínuas na rotina de trabalho continuassem acontecendo e me deixando bem maluca, vivia experiências que funcionavam como uma nova respirada pra quem está submerso e me traziam um pouco de esperança. Uma dessas experiências foi uma programação de uma semana inteira que aconteceu em fevereiro, com apresentações de todos os setores da empresa, reunindo os guerreiros de obra do Brasil inteiro (minhas inspirações pessoais) e me fazendo entender horizontes, discordar e concordar com muitas ideias. Eu sabia que as coisas iam mudar ali e que tudo seria diferente em pouco tempo. Essa semana teve fim com um rafting, lá em Brotas, o que foi surreal de bom. Fazia muito tempo que eu não me divertia e cansava tanto.


Conheci também estagiários... e como era bom tê-los! Desde a minha experiência com o Natal não me lembrava muito bem como era delegar tarefas e organizar rotinas, mas estar com pessoas com tanta força de vontade, tanta determinação e tanto entusiasmo me fazia crescer absurdamente. Muitas vezes, eles eram a vitalidade que talvez eu já não tivesse, veja bem. Acho que se a gente parar pra prestar atenção, é impressionante como a força dos mais jovens pode te motivar a ser melhor e fazer mais, com uma atitude responsável, primeiro por você, e depois por eles.

Quando minha rotina foi transferida para o escritório, já tinha ganhado uns bons 10 quilos por ser indisciplinada com minha alimentação enquanto estava fora de casa. Morar em São Carlos engorda, estejam avisados. Nesse tempo, aprendi muito. Conheci mulheres doces e doidas, bem do jeitinho que me descobri sendo. Entendi o que é empreender, o que é se virar nos 30, o que é ser paciente e recebi muitos abraços quentinhos em manhãs são carlenses frias. Meu coração foi grato por isso. Minha rotina de congelar comida e lavar roupa depois de chegar do serviço me fazia bem, velha que sou. Mas né, o coração também alerta a gente e em algum canto dele havia uma plaquinha indicando perigo. Decidi ignorar, achei que não era importante. A verdade é que alguns meses passaram e eu continuei sendo a peça que não dava encaixe. Quando comecei a ter enxaquecas frequentes, azia e gripes sem fim, decidi ignorar. Não podia parar minha rotina com datas de entrega tão próximas para ir ao médico. Um PS e uma farmácia bastavam.

Quando fui demitida doeu. Doeu por ser um período de tanto aprendizado que foi interrompido. Doeu por ter sido como observar uma criança que estava aprendendo a balbuciar as primeiras palavras (por que quando cheguei já não havia bebê, o projeto já tinha nascido), e abandoná-la quando ela tivesse aprendido a se expressar (e com muita desenvoltura). Eu não estaria mais presente para ajudar na formação de seu caráter.

Apesar de doer, a gratidão ainda me cura diariamente. Todo o meu aprendizado me tornou melhor, me fez crescer e contemplar mundos que nem em sonho imaginava que existissem. Contrastes como estar na Faria Lima e logo em seguida na favela me traziam inspiração. Profissionais que conheci me fazem acreditar que um mundo melhor é formado por pessoas melhores e mais capacitadas, mas também mais empáticas. Minha profissão deve ser para o mundo, por que, no dia em que for apenas pra mim mesma, estou condenada.

Vale a pena ressaltar que passei meu aniversário MAL. De verdade. E tudo bem. Nem sempre a gente vai estar bem e essa é uma verdade dura de lidar, mas que esteve presente em TODOS os dias de 2019. Nesse, em especial, estava com uma virose muito da maluca que já durava 3 semanas (e ainda durou mais uma). Apenas desconfio (por ainda não ter lembrado de me pesar), que uma parte dos meus 10 quilos engordados foram emagrecidos nesse meio tempo, por que meus shorts antigos voltaram a servir. Que fique registrado que fiquei mais feliz por ter resgatado minhas roupas antigas do que por ter perdido peso. E que estou vivendo pra não engordar tudo de novo, por que sei que esses quilos que perdi afetam bastante minha disposição e saúde. Lembro como eram sofridos os 20 minutos de yoga que hoje faço quase sem suar. As enxaquecas diminuíram drasticamente de frequência, tanto que, nem lembro quando foi a última. A boa e velha gratidão sempre vem, queridos, mas ela vem por que a convido e me permito olhar pra situações não tão agradáveis com outra lente.

Nesses meses que se seguiram, voltei a morar em Americana, como há 6 anos não estava, e tentei me descobrir como profissional, mas a verdade é que não cheguei em lugar nenhum. Não tentei o suficiente, ou talvez não exista resposta mesmo. Testar possibilidades, tentar fazer um dinheirinho a parte e não desanimar diante da monotonia têm sido minhas metas diárias. Felizmente, agora no final do ano, a vida começou a se agitar e oportunidades novas estão aparecendo.

Rapaz, vamos falar de dinheiro antes que eu encerre essa retrospectiva meio doida da cabeça. Em 2019 aprendi muuuuuuuuuuito sobre dinheiro, sobre como ele funciona como funcionário e como tenho que priorizar metas e me virar com o resto. Vejo que muita gente morre de medo de falar sobre dinheiro, que não tem a mínima noção do que significam essas quedas sucessivas da SELIC ou ainda, que têm certeza que o dinheiro é coisa do tinhoso. Venho por meio desta desdemonizar esse aspecto da vida tão comum pra todos nós (a menos que você seja um heremita). Planejamento é uma das chaves, conhecimento é outra, mas libertação de padrões desnecessários é a mais importante. Não é por que todo mundo tem que você precisa ter. Não é por que tem dinheiro na conta que dá pra comprar. Não é por que o cartão de crédito te deu o limite que você pode gastar tudo. A única vez que cheguei no limite do meu cartão foi com despesas de viagem da empresa, que seriam reembolsadas.  Confiar na providência divina é ser um bom administrador daquilo que nos é dado e também buscar alternativas para chegar mais longe. Confesso que tenho falhado em alguns aspectos, mas continuo aprendendo. Sem um salário regular caindo todo mês na minha conta, comecei a usar da minha reserva de emergência e buscar fontes alternativas de renda.

É muito importante que a gente entenda e tenha disciplina de poupar pra poder realizar mais coisas e doar de coração aberto. É importante que a gente sonhe, mas que não apresse sonhos que envolvam gastar dinheiro. Geralmente temos pressa, pulamos sem saber se o paraquedas vai abrir. Na maioria dos casos, para doar, é necessário ter primeiro. Só consigo amar por que fui amada; primeiro recebi, depois doei. Só consigo ensinar por que já fui transformada pelo conhecimento. E olha, o conhecimento transforma viu... Transforma medos em frio na barriga e rodinha nos pés. Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. E a Verdade vos amparará. E vos será companhia, dia e noite, nos perrengues e nas conquistas.

Junto com todo esse caos que é a vida, um aspecto se manteve constante nos meus dias e ele atende por Paulo, Paulinho, ou Paulo Afonso. Meu engenheiro preferido, companhia, ainda que às vezes virtual, pras noites curtas (por que a gente é velho e vai dormir cedo), uma das forças da natureza que me move e meu amor. Com ele aprendi a confiar, a me esforçar e a me superar. Aprendi muitas coisas tecnológicas e aleatórias em que ele é especialista e aprendi que resiliência é muito mais do que um textão de Facebook. Aprendi que resiliência é acordar todo dia e fazer, sair da inércia e da zona de conforto. Aprendi que resiliência é, às vezes, deixar alguns brigas pra lá e usar minha energia para algo mais produtivo. Meu companheiro de jornada faz dela cada dia mais desafiadora, não por brigas, nem por pressões desnecessárias, mas por me incentivar a ser melhor, por mim mesma, não pelos outros. Faz com que a realidade se ajuste. Apesar do pavor por crianças, tem coração de menino. E apesar das minhas muitas lágrimas, loucuras e reclamações, faz meus dias muito mais felizes.

Confesso que os meses foram passando sem que eu me desse muito conta. Felizmente, os amigos da faculdade continuam firmes e fortes, embora cada um esteja em um canto de São Paulo agora, quase dois anos depois de formados. Consegui me reunir com a família que a UFSCar me deu com alguma frequência e, mesmo distantes, compartilhamos as alegrias e os perrengues que a engenharia nos trouxe.

De todos os conselhos que poderia dar pro ano que começa, digo pra que você cultive boas companhias. Escolha um companheiro de jornada que te incentive, te admire e te envolva quando os inevitáveis dias ruins vierem. Dê influência pra quem te faz crescer. Escute as críticas de quem já te elogiou, de quem acredita em você e preste bastante atenção nelas. É muito difícil encontrar alguém que não nos deixa acomodados na mesmice de nós mesmos, mas que ao mesmo tempo te admire por quem você é hoje. Se você tem pessoas assim, cultive-as em 2020.

De 2020 só espero novidade e aprendizado. Que venha trazendo dias bons, ruins, dores e desafios. É tão certo como o sol nasce amanhã que a misericórdia e a gratidão vêm junto. De resto a gente vai à luta. Que 2020 traga menos enxaquecas e mais empatia. Menos rancor e mais desenvolvimento pessoal e profissional. Menos fofoca e mais conexão. E que a gente saiba ser melhor do que é hoje.

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