sábado, 12 de março de 2011

Uma história difícil de te contar


Novamente, esse post não faz muito sentido ao nome do blog, mas era preciso postar pra que houvesse um ponto final, um desabafo. Afinal, é para isso que servem os blogs. E acreditem vocês ou não, essa foi a história mais dificil de ser postada. É claro que eu editei esse texto do original, porque ele estava guardado fazia um tempo e havia coisas desnecessárias para este post.

Eu tinha jurado que isso não ia acontecer. Estava tudo bem e já tinha sabia que iria manter as coisas no devido lugar. Grande engano. É o ano do vestibular. VES-TI-BU-LAR! Essa palavra ainda aterroriza meus piores pesadelos. Desde o primeiro ano do ensino médio ela torna minha vida mais miserável. Como demonstrar tudo o que sabemos num só dia? Quatro horas e uma prova. É tudo culpa da maldita burocracia...
Eu tinha conseguido, tinha ficado em estado lúcido desde fevereiro. Ou março, talvez abril. O tempo para a cicatrização completa nunca é definido. Tinha ficado sangrando no chão, com todos os cortes abertos. Mas não chorei. Aquilo não merecia lágrimas. Entre meu estado completamente louco e meu estado completamente lúcido passou-se um ano. E eu tive ilusões. “Amores”, se preferir. “Platônico” já está clichê. Eram boas ilusões. Duravam um mês ou dois; serviam para que eu soubesse que ainda podia sentir; que eu não tinha um coração de pedra, que todo o sofrimento e todas as mentiras não me transformaram em alguém amarga e fechada para a vida.
Não, esse ano não aconteceria. Eu ia estudar; engolir e pisotear aquelas malditas provas no final do ano. Foi justamente me preparando para elas que eu caí de novo. Como nunca, nem em um milhão de anos eu imaginaria. Eu estava esperando que tudo fosse muito mais chato, que eu ficaria sozinha, que seria tudo muito sério. O cursinho não é o que as pessoas desejam fazer (elas só o fazem por necessidade), mas foi ali que eu tive e tenho momentos ótimos. E não, nem em um milhão de anos eu imaginaria.
Eu tinha construído uma muralha, pedra sobre pedra a cada tropeço ou mágoa minha. Eu não iria permitir que nada que fosse grande ultrapassasse essa barreira.
Duzentos alunos. Como, quando e por que eu não sei, mas o vi. Não sei dizer o que aconteceu comigo. Estava tão convicta de mim, tão convicta das minhas escolhas e das minhas crenças. Tinha quase me transformado numa cética. Então, eu o vi. Eu queria viver, queria poder sorrir sem dor, sem medo de estar alimentando meus monstros de esperança que só me destruiriam por causa das minhas idealizações não realizadas. Vi-o. “Eu tenho a minha muralha”, pensei; louca que sou. “Ele é só mais um entre os duzentos”. Louca. Vi-o.
No começo era algo bom, confortável. Não tinha que fazer escolhas. Eu o olhava, seus um metro e quase oitenta, seu cabelo cacheado, aqueles olhos impenetráveis. Aquele jeito maldito de auto-suficiência e o seu irritante autocontrole que me atrai tanto nas pessoas. Talvez por que eu os almejasse, talvez por que eu sou dependente e descontrolada. Um jeito de quem se sente conformado com os amigos que possui. Um jeito de tentar convencer os outros de sua felicidade na sua solidão, até mesmo na sua tristeza. Eu conheço, eu construí essa mesma muralha.
Aquele magrelo misterioso estava tirando a minha concentração, até nas aulas de geografia com o professor bonitão. As aulas de literatura me doíam porque eu não sabia para onde direcionar minha atenção. E, ainda no começo, eu só tinha o vestibular na cabeça. Aquilo era um aborrecimento para mim. Minha muralha tão bem construída, tão bem vigiada, tão segura estava se desfazendo aos poucos. Eu não queria. Neguei. Disse mil vezes a mim mesma que aquilo não daria certo. “Não vai dar certo”, eu continuava a repetir. Ainda assim, uma teimosia monstruosa, corajosa e estúpida me invadiu. Eu me permiti pequenas coisas. Eu o via quando ele chegava. Em algumas aulas, eu via seus gestos tão amenos e tão solitários. Confesso que demorou para que eu visse um sorriso, mas a espera valeu a pena. Eu pensei nele na hora de dormir. Nas minhas orações. Eu imaginei o futuro dele. Eu pensei em como seriam suas escolhas, me perguntei se algum dia ele poderia ver em mim ao menos metade do que eu enxerguei nele. Não foi fácil. A cada descoberta eu fui me permitindo pensar. Ele era um enigma que só pessoas solitárias e com algo de Sherlock Holmes teriam a audácia de querer desvendar. E lá estava eu.
Não foi preciso que ele agisse, que atacasse minha muralha (cuidadosamente construída) com bombas. Eu simplesmente fui tirando cada tijolo, destruindo cada torre. Virou pó. Cada pequena situação fazia-me atear fogo aos “nãos”. O sorriso destruiu uma torre. Os olhares então; fizeram-na cair completamente. Com o passar dos dias tudo estava destruído sem que ele, no entanto, nada fizesse para a destruição ser completa.
Eu estava apaixonada de novo. Não se engane, aquilo me aterrorizava mais do que o vestibular e o aquecimento global juntos. Eu não estava nem lembrando do "fim do mundo", da globalização ou da crise econômica nos Estados Unidos.  Pobre Barack Obama, nem lembrava mais que ele era presidente de lá. E o vestibular? Virou uma provinha que eu nem tinha mais medo. O que me amedrontava, aterrorizava e fazia meu coração gelar era a queda daquela muralha. E, veja você; não era a da China nem o muro de Berlim, era a minha muralha.
O que mais me impressionou nele é que, mesmo sem me dirigir uma só palavra ele me fez derreter. Só o fato de ele existir já me fazia sorrir. Só o fato de tê-lo sentado naquela sala enorme a poucos metros de mim fazia-me acreditar. Então, destruiu-se a minha fortaleza. Jaz no pó.
Aquele menino-enigma não foi difícil pra mim, eu já o tinha desvendado mesmo sem conhecê-lo. Assim foi com a voz. Eu tinha sonhado (literalmente sonhado, não idealizado) com aquela voz exatamente como ela é. Eu já tinha certeza que, por dentro dessa impenetrável aparente armadura havia sim um guerreiro, mas com um coração e que não o deixou petrificar por causa das guerras. Ele só criou seu casulo, proteção, assim como eu.
Pessoas diferentes não passam despercebidas. Ele viveu histórias tão antigas quanto aquela que me deixou sangrando. É até interessante: estávamos sofrendo pelos mesmos motivos na mesma época sem sequer saber que existíamos
Não se engane: tudo isso só me fez pensar mais a respeito de estar apaixonada. E daí que ele viveu as suas histórias? Eu também vivi as minhas. E daí que ele tenha sofrido? Eu também sofri.
Resta-me agora a escolha. A escolha que decidirá o que vai ser de mim e desse "Chris Martin"; a semelhança física com o Nino é inegável e a minha semelhança psicológica com a Amélie também. Tanto que, aqui estou pra escrever, só escrever o que me intrigou durante tanto tempo. O mistério do caso Chris Martin, as inexplicáveis e incontáveis vezes que eu agi feito idiota, as vezes em que eu poderia ter feito alguma coisa mas fui covarde e derreti, igualzinho a Amélie.Não tenho a mínima ideia do porquê de estar aqui postando essa história. Acredito que o dono dela nunca a lerá e nem sequer sabe que esse blog existe, mas eu quis postar. Talvez seja aquela esperança mínima, aquela luz pequenina no fim do túnel. Ou então por que eu jamais o verei, então a coragem me inundou pra que eu falasse de todas as coisas que senti.
Apesar de tudo isso, dessa confusão toda, eu estou em paz. Como é possível? Eu não sei, mas agora eu estou em paz.
 O futuro me traz o impossível, então eu não vou mais me limitar.

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