quarta-feira, 30 de maio de 2012

Algumas coisas que Deus me deu...

Deus me deu os olhos, uns impassíveis olhos grandes que cumprem muito bem sua função. Apesar da miopia de 2,75°, eles veem muito mais do que as pessoas possam imaginar. Sou detalhista nas paisagens, meio Sherlock, como vivo dizendo. Talvez eu tenha os tais olhos de 'cigana oblíqua e dissimulada', mas quem sou eu pra me comparar à Capitu? Essa suspeita é pelo simples fato de que as pessoas nunca conseguiram enxergar através deles. Talvez algumas, mas raríssimas. Não faço de propósito! Podem ser difíceis de decifrar mesmo...
A qualquer sinal mínimo de novidade, de intensidade, de segundas intenções, o mecanismo dos olhos avisa a mente, que já calculou a situação, acende a luz vermelha e um sorriso (talvez de sarcasmo) vai parar na minha boca automaticamente. Por isso talvez alguns desconhecidos pensem que sou meio maluca, mas nunca se sabe...

Deus me deu os ouvidos pacientes, que já suportaram o peso de bilhões de palavras, confissões e desabafos. Eles sabem ouvir opiniões. Sabem que algumas palavras que passam por eles e vão para a mente nunca devem sair de lá. São uns danadinhos também, escutam muito mais do que deveriam, mas a voz sabe quando o silêncio tem que permanecer. Já ouviram coisas inacreditáveis e a mente já lhes disse que não conseguia compreender o que tinha processado. Já ouviram coisas preciosas que fizeram com que o corpo, a mente e o coração adotassem posturas diferentes. Quão importante são os ouvidos!

Deus me deu o coração, um coração forte, determinado. Foi endurecido durante um tempo, mas, com um belo tratamento executado junto com os ouvidos, a mente, e um Amor maior que eu  que se instalou ali, tornou-se vermelho e maleável, fácil de ser quebrado e reconstruído de maneira melhor do que era. Ele sofre uns bocados, mas, acredito que de tudo o que Deus me deu, o coração seja a parte mais resistente e que teima em repetir "renovatio!".
Coração que aprendeu a compartilhar alegrias e tristezas. Infelizmente, ele se preocupou demais em poupar o sofrimento dos outros e estocou todas as palavras que eram pra ser ditas pela voz. Palavras não ditas viraram mágoas. Ficou cheio, pesado. Então, esse Amor as jogou no lixo. Ele permaneceu e ainda vive ali, insistindo em jogar as mágoas fora e mostrando para a voz que, às vezes, ela deveria gritar.

E então Deus me deu a voz. Tão peculiar! Ela se recusa a aparecer em frente aos que não compreenderiam.  Recusa-se a aparecer quando há gritos. Adora cantar, queria cantar mais, todas as horas do dia e adora me fazer parecer maluca também. Quando há uma situação de nervosismo a mente a abandona e ela fala sem parar, repetidamente. É extremamente falha para expressar as palavras da mente e do coração: deixa essa tarefa para as mãos que escrevem. É extremamente importante, quase enlouqueço quando me abandona. Tão falha, coitadinha! Queria tanto dizer mais, mas infelizmente ela só se revela através de opiniões a poucas pessoas.

E, além de muitas outras coisas, Deus me deu a mente. Sou ser pensante, com capacidade de raciocínio, com discernimento. Mente que se atrapalha em várias ocasiões. Mente que quando não entende alguma coisa, por mais subjetiva que ela seja, não consegue sossegar até encontrar alguma resposta, ainda que insatisfatória, pequena. O coração dá uma ajudinha nesse sentido às vezes. Mente curiosa, mente que produz, destrói e constrói, tudo de uma vez só. Ela me permitiu enxergar mais do que os meus olhos podem ver, ouvir e respeitar as opiniões alheias, amar sem acumular mágoas no coração e usar a voz para dizer apenas aquilo que é relevante.

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