quarta-feira, 13 de março de 2013

Diário de bordo de Bruna Marola e Marola

O texto é longo, se a paciência tá curta, nem tente. Se começar, leia até o final. Talvez nem seja interessante, mas senti vontade e ponto. O título é em saudosa memória do programa de infância Mundo da Lua, com o Diário de Bordo de Lucas Silva e Silva.

Dia 11 de março de 2013 foi um dia muito especial. Talvez você tenha ido trabalhar normalmente, talvez tenha ido ao médico ou talvez esse dia tenha sido cheio dos problemas típicos de uma segunda feira. Pra mim, dia 11 de março de 2013 foi o dia em que tudo começou, em que um sonho se tornou realidade. Foi o dia em que vi meu nome completo, mais uma vez, em uma lista de aprovados no vestibular. Mas dessa vez, era possível. Eu iria. Eu vou!
Não queria fazer Engenharia Civil desde pequenininha, quem me conhece um pouco sabe disso. Já passei por várias fases: professora, psicóloga, tradutora, arquiteta... Eu tinha essa ideia mais ou menos formada no final do ensino médio, mas sem saber ao certo por que. O cursinho direcionou meus interesses. Aos poucos fui me apaixonando pela física. A matemática já tinha lugar cativo no meu coração e a química, que eu até gostava, virou um problema. História também. Eu não sabia de nada de nada com 17 anos, no primeiro vestibular. Absolutamente nada da vida, do que significava fazer uma faculdade e etc. Só sabia de uma coisa: é dever do governo me dar um Ensino Superior e, apesar de ter pago o fundamental e o médio, coloquei no coração e na mente que a faculdade teria de ser pública e que eu tentaria entrar nas melhores.
A educação básica foi de inteira despesa dos meus pais, e eu devo isso a eles. Sempre fizeram o melhor que era possível com tudo o que tínhamos, nunca me privaram de coisas importantes e desde pequena me ensinaram o valor do dinheiro e o gosto pelos estudos. Não me orgulho de ter feito tanto tempo de cursinho, é verdade. No entanto, cada centavo da mensalidade saiu do meu bolso, exceto a última, que foi paga por eles em razão do fim do recebimento dos meus benefícios. Dinheiro esse fruto do meu trabalho de meio período que rendeu muitos aprendizados e uma perspectiva muito melhor da vida. Dos 17 aos 19 anos estive trabalhando e fazendo cursinho, prestando vestibular para um curso que estava atrás apenas de Medicina, Arquitetura e talvez Engenharia de Produção.
Confesso que me achava muito maluca em 2012, por que larguei o emprego e caí na vida de estudante em tempo integral. Pense: dois anos de cursinho, mais um semestre e meio o dia todo. Eu estava maluca! Já poderia ter terminado um curso técnico, estar no meio de uma faculdade normal, menos puxada... mas eu estava lá, NO CURSINHO! Tinha dado meu ultimato: em 2013 começaria uma faculdade, nem que fosse no curso de Física! O começo do meu ano letivo (em maio) foi muito difícil. Eu assistia àquelas aulas me perguntando o que estava fazendo ali, me perguntando quantas apostilas eu teria que usar ainda, me perguntando quando o Márcio perderia a paciência e perguntaria: "Mas o que você ainda está fazendo aqui?!".
Mas o ser humano é adaptável. E eu não sou de desistir fácil. Depois das férias as coisas começaram a melhorar, eu comecei a me enturmar melhor e ver que ansiedade e desespero não eram só minhas características, mas de muita gente boa que estava por lá. Depois de estudar até não poder mais, chegou a época das provas. Todo mundo extremamente maluco. Ao prestar o Enem eu só pensava que tinha que acertar o máximo de questões que fosse possível, nem que isso me rendesse dores de cabeça e de coluna. Por experiência própria: a cada ano que passa você fica mais nervoso, se cobra muito mais, mas faz a prova mais confiante.
Os resultados chegaram, nem tão bons quanto eu imaginava. O Enem estava razoável, a Unesp também, mas a Unicamp e a USP não estiveram dentro das minhas expectativas. Da USP eu nem liguei, de verdade, mas da Unicamp eu fiquei completamente arrasada por não ter ido pra segunda fase. Absolutamente. Chorei  durante a noite em que o resultado saiu e só fui pro cursinho no dia seguinte por que precisava devolver uns cadernos de revisão. Passei o final do ano completamente destruída por isso, por que era a Unicamp que eu sempre desejei, mas fui barrada antes de ter a chance de tentar de novo. Meus pais choraram comigo. Mas é bom lembrar que só depois de destruir alguma coisa é que se enxerga o potencial da reconstrução.
Fiz a segunda fase da Unesp, fui bem na prova, mas também não deu. Antes mesmo de saber disso, acabei deixando a segunda opção do Sisu na FURG, em Rio Grande, Rio Grande do Sul. E passei. Foi um período difícil. Eu não sabia o que fazer. Perderia a chance de entrar em uma faculdade Federal por falta de grana? Por que era muito longe? Por que meus pais não queriam? Entrei em desespero várias e várias vezes, até que me conformei com a situação e entreguei tudo nas mãos de Deus. Ele saberia onde me colocar e quando me colocar. A minha parte estava feita, meu melhor eu tinha dado.
Foi-se o churrasco dos aprovados, com todo aquele pessoal maravilhoso ingressando nos melhores cursos do Brasil bem na época do meu desespero. Fiquei MUITO feliz por cada um deles, o esforço tinha sido recompensado. Eu falava: ah, vamos ver na Ufscar né, quem sabe? Se não der vou pra Unimep mesmo...
Então, mais de um mês depois, chegou dia 11 de março. Depois que eu sosseguei meus medos na presença do Pai, depois que eu aprendi a me amar, depois que eu aprendi a ser sincera, depois que eu resolvi me abrir para a vida e as situações inusitadas dela, vi meu nome na última lista de chamada antes do começo das aulas na Ufscar. Foi maravilhoso. Não consigo descrever a sensação. Só quem já passou por isso sabe como é.

Não quero lhes contar essa história toda com a finalidade de me exaltar. Jamais. Quero que através dela alguém talvez se identifique, talvez alguém se encoraje, talvez alguém tenha histórias pra contar também. Quero ouvir todas elas!
Não desistir disso foi a melhor atitude que já tomei na vida. Apesar de ter uma vida toda, 20 anos de Americana, descobri que algumas coisas precisam ser deixadas pra trás. Outras não me abandonarão. Outras ainda me reencontrarão no futuro, eu sei disso. Sei que muitas coisas difíceis me encontrarão nesse caminho, mas o que eu achava que era meu sonho ficou pra trás. O que ficou pro futuro foi o sonho de Deus pra mim, por que eu não imaginava, não esperava nada disso. Agora preciso correr contra o relógio, mas que corrida mais maravilhosa é essa! Ser a primeira da casa a ter um diploma universitário. Ser talvez (família gigante, sabe como é) a primeira da família a se formar em uma Federal. É algo muito mais maravilhoso do que eu jamais imaginei. Quem semeia com lágrimas nos olhos, colhe os frutos no tempo certo. E eu digo mais: quem estuda muito com uma caneca de café do lado, apesar das dores de cabeça e do cansaço mental, vai ser bom profissional no futuro. Vai entrar nas melhores faculdades e ser diferença neste mundão de meu Deus!

Um comentário:

  1. Excelente história de vida bruna!!
    Vou continuar torcendo para que tudo dê certo também dentro da faculdade, do mesmo jeito que eu torci pra te ver dentro dela !! um bjo! André Amorim

    ResponderExcluir