terça-feira, 24 de maio de 2016

Sobre a legitimidade do que me representa

Não, uma greve partidarista não me representa. Não, pessoas que buscam poder a custo de decisões obtidas à força, às custas de manipulação de circunstâncias também não me representam. Não, nenhuma atitude forçada em relação ao andamento das coisas me representa e jamais me representará. Mas eu não estou aqui pra dizer o que me não me representa.

O que é legítimo e me representa é o amor dos meus pais por mim. Um amor que eu nunca compreendi como é capaz de existir apesar de todos os erros que eu cometo e eles acompanham de perto. Um amor que se sacrifica de maneira inacreditável em favor do meu bem estar. Penso que se qualquer autoridade pensasse em seu povo como pensa em seus filhos o mundo seria um lugar muito mais agradável...

O que é legítimo e me representa são as pessoas que se importam. Amigos que fazem de tudo pra eu sorria, que se preocupam até o último fio de cabelo branco em alguns casos com o meu bem estar. Que demonstram amor das diversas formas em que isso é possível: ouvindo, abraçando, fazendo comidinhas gostosas, usando qualquer tipo de ferramenta (inclusive as virtuais) para oferecer suporte. É uma legitimidade de amor sem fim, de jeitos que eu nunca imaginei; uma legitimidade de representação daquilo que eu também quero ser, daquilo que preciso fazer o tempo todo. O que me representa é essa troca de figurinhas, esse ouvir e contar histórias de humanidade, exatamente como um certo homem fez alguns mil anos atrás. O colega que se preocupa com os mendigos no dia de geada, o que se preocupa em melhorar a qualidade de vida através de alguma ação, o que se preocupa em mudar um pedacinho que seja de uma realidade injusta: estes são os que me representam.

O que é legítimo e me representa são os professores que pensam em seus alunos como pessoas que têm limitações, que passam por dificuldades e têm milhares de lutas diárias a serem travadas na vida. Estes são os mestres legítimos e que me representam.

A humanidade perdeu a noção da legitimidade de suas dores e de seus amores. Deixou pelo caminho a empatia e abraçou o poder a qualquer custo. Perdemos pelo caminho a decência de nossos atos, justificando atitudes pavorosas no meio quando queremos chegar a um fim. Os fins não justificam os meios. A legitimidade do fim encontra-se na legitimidade do processo todo.

Na representação da minha humanidade estão o choro, a raiva e a impetuosidade das circunstâncias, mas acima de tudo está o amor. O amor que ganhei e que possuo está tão enraizado em mim que reflete no raio X da minha alma. Reflete na minha atitude com o próximo. Reflete no valor que possuo de mim mesma. Reflete em decisões tomadas em tempos difíceis e injustos. A legitimidade do que me representa faz com que eu pense no lugar do outro, me faz sentir verdadeiramente sua dor. O que me representa não usa a dor do próximo como pretexto para conseguir vontades individuais: é legítima a representação de um amor quando este não procura benefício próprio.

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