sábado, 30 de abril de 2016

Sobre a menina que não gosta de perfume doce

Odeia estereótipos, odeia qualquer tipo de intolerância. Sempre mudou de opinião quando lhe convenciam do contrário, sempre soube que seu lugar era fora da caixinha rotulada como "típico".
Quando criança não gostava de rosa, não gostava de brincar de boneca. As princesas loiras não faziam mesmo seu tipo e não alcançavam seu coração: ela sempre esperava um pouco mais. Das princesas, da vida, das pessoas.

Assim que começou a descobrir que não era mais uma criança já criou um ódio inerente aos perfumes adocicados. Aquele cheiro a enjoava, dava fome, a confundia de tantas maneiras que jamais conseguiu aprová-lo. Era para meninas delicadas, emotivas, que se apaixonavam fácil... e ela sabia que não era uma daquelas garotas. Sabia também que não havia nada de errado com elas, cada uma ia se descobrindo mulher do jeito que mais gostava. E ela não gostava de perfume doce. Ela nunca foi uma princesa aguardando o resgate, nunca esperava ajuda de ninguém para seguir com a vida e se machucava várias vezes tentando se virar sozinha.

Por longos anos foi transformada por milhares de situações e contratempos. Por longas histórias escritas em cadernos ultrapassados foi registrando sua vida, sempre de maneira bem dramática, é claro. De fato, ela nunca foi excepcional. Nunca se sentiu estrela, nunca quis o lugar do pódio que pouquíssimas vezes a pertenceu. Nunca soube guardar ressentimentos. Descobriu que tanta capacidade para perdoar veio por que foi perdoada primeiro, no entanto, tem estabelecidos seus erros imperdoáveis e pede a Deus que não precise testar suas capacidades no caso de algum deles exigir seu perdão.

Dizem que ela tem um coração de manteiga mas raramente chora. Ela já chorou demais, sempre teve seus momentos de crise mas tem grande dificuldade em partilhar de suas dores, inseguranças e medos com qualquer pessoa. Quando a angústia vem, chora, desaba e escreve. Em épocas conturbadas, larga tudo e pega o papel ou o computador e escreve. Loucamente. Até que aquele sentimento estranho, que não faz parte dela mas a consome, suma. Dissipa-se. Nova está para continuar a incessante jornada de estudar, ser, fazer e, por fim, descansar.

 Não sendo mais menina, por vezes se confunde da mesma maneira, por inúmeras vezes pensa sobre si mesma, sobre sua vida, suas escolhas. Não entende muito bem como é viver descompromissada com as situações... Sempre quis dar o seu melhor ou absolutamente nada, mas quando desiste, não desiste por completo, afinal, ainda não descartou a possibilidade de encontrar um perfume doce que a agrade. Não descarta a possibilidade de uma falha transformar-se no maior acerto de sua vida. Não gasta energia chorando aquilo que deu errado, mas pensando sempre em como transformar seus erros em acertos.

Em tardes solitárias de fins de semana cheio de responsabilidades da segunda feira  não se lamenta muito, só escreve. Escreve para as palavras lhe fazerem companhia. Escreve por que tem um motivo. Escreve para lembrar que é muito mais do que ensaios de adensamento do solo ou projetos de redes de água ou ainda a faxina por fazer. Sabe que é a menininha do poeta, a que não gosta de rosa nem de perfume doce, mas adora um texto perdido, um dia frio e um bom motivo pra desanuviar a mente quando um sonho começa a ocupar demais suas preocupações.

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