quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Quando eu era criança

Quando eu era criança pensava que continuaria aprendendo tudo na velocidade acelerada e contínua para sempre, que nunca encontraria dificuldades para aprender e sempre seria elogiada pelas professoras ao longo da vida. Quando cresci e entrei na faculdade, descobri em mim um ritmo de aprendizado lento, difícil e arrastado. Sofrido. Ainda assim, apesar das aulas intermináveis e muitas caretas ao longo de cada uma delas, pareço ser reconhecida por alguns professores, até mesmo alguns que me reprovaram ainda sorriem para mim nos corredores da UFSCar. A criança que eu era sorri de volta para eles.

Quando eu era criança sonhava que poderia mudar o mundo. Todo ele, de uma vez. Não entendia a desigualdade entre as pessoas e, no início da adolescência, cheguei a pensar que somente algumas atitudes muito drásticas resolveriam os problemas do mundo. Agora que cresci descobri que eu não posso mudar grandes extensões do mundo sozinha. Que é impossível resolver todos os problemas do mundo. Nada do que eu faça sozinha vai modificar de maneira efetiva alguma realidade. Descobri, depois de crescida, que realidades são mudadas quando juntos fazemos algo para isso. A criança que eu era estaria muito orgulhosa hoje ao saber que descobri meios de mudar pequenas realidades.

Quando eu era criança, imaginava que aos 23 anos estaria morando fora de casa, formada em alguma profissão e casada. Eu era uma criança extremamente conservadora risos Agora que cresci, prestes a fazer 24 anos, ainda dependo do dinheiro dos meus pais e ainda falta um pouco para me formar. Agradeço a Deus todos os dias pela experiência libertadora e empoderadora de morar fora de casa. A criança que eu era queria estar casada aos 20 anos de idade, mas ela não sabia o quão rápido passariam os anos da adolescência e que, com o passar dos anos, a ideia de casar com essa idade era extremamente surreal para a adulta que ela se tornaria. Ela não desconfiava que o primeiro namorado demoraria tanto para aparecer e muito menos que relacionamentos sempre seriam uma parte deliciosamente confusa da sua existência. Agora que cresci, a imagem do casamento continua linda, adorável e doce, mas ela não é mais fundamental. A criança que eu era teria dificuldades para compreender a sensação de ser completa sozinha. Ela jamais acreditaria em mim se eu lhe dissesse que ela sorriria todos os dias para o espelho por saber que é amada. Ela jamais acreditaria que estava tão perto de se tornar uma engenheira. Ela ficaria muito brava ao saber que com quase 24 anos, sua futura eu, mesmo sendo habilitada não dirigia. Eu também, eu também...

Quando eu era criança, conheci os processos de tratamento da água e participei de campanhas em prol do meio ambiente. Meu coração batia mais forte e de algum modo eu desconfiava que aquele seria meu mundo mágico quando adulta. Quando via na televisão desmoronamentos e enchentes já sabia que era ali que tinha que trabalhar. Hoje, crescida, quando minhas aulas preferidas correm, só consigo lembrar daquela menininha curiosa com os olhos brilhando ao ver que poderia melhorar a vida de muita gente simplesmente exercendo uma profissão de maneira digna.

A criança que eu era ainda existe e é reflexo do que sou hoje. Esse relato é apenas pra lembrar que você deve satisfações à criança que foi agora que se tornou adulto. Você corresponde às expectativas que tinha?


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