quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Brasil que ninguém estava esperando

Confesso que  nunca em minha vida imaginaria que veria tamanha movimentação no país em que nasci. Estava certa de que a situação na qual o Brasil se encontrava (e se encontra) jamais iria mudar por possuirmos um povo acomodado, sendo eu parte desse povo. Não imaginava que várias cidades do país se levantariam pra gritar sua dor, pra expor suas injustiças e cutucar as feridas de um Brasil deficiente.

Devido à rotina de correrias só pude me atualizar das notícias sábado passado e vi que a coisa estava séria mesmo. À princípio achei que tudo se resumiria a São Paulo e aos famigerados R$0,20. Mas não. O povo estava cansado de engolir a seco, cansado de esconder suas dores, insatisfeito com toda a roubalheira que perpassa o governo desse país. E aí, cito a música: "disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa mas a vizinhança inteira. E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade, e há tempos são os jovens que adoecem, e há tempos há ferrugem nos sorrisos".

Pois é. O grito acordou a vizinhança inteira, não sabemos realmente a medida da maldade e os jovens estão doentes, carecem de motivos pra sorrir de verdade. Não temos transporte adequado, educação adequada, tratamentos de saúde adequados. O cúmulo do descaso se deu aqui mesmo, em São Carlos, onde existe a possibilidade de fechamento do curso de medicina por falta de estrutura. Como ficam todos esses anos de dedicação desses jovens ao estudo? Onde enterrarão o sonho de cuidar da humanidade?

O povo está em seu direito de manifestar-se e é aí que entra minha indignação em relação à passada quinta feira. A história toda vocês já conhecem: polícia impaciente machucando gente inocente e tudo mais. Indignação define o que eu senti naquele momento. Mas já se passou uma semana...

Meus olhos presenciaram nas telas cenas que jamais imaginei. Rio de Janeiro e São Paulo com suas avenidas lotadas de manifestantes. Pessoas com cartazes enfáticos. Crianças, idosos. O Congresso tomado por manifestantes, que em sua grande maioria eram pacíficos, mas estavam ali pra mostrar ao mundo sua insatisfação, revelando o lugar onde ocorre todo o tipo de porquice dos governantes. Utilizando dinheiro público, é claro. De repente, o Brasil inteiro estava se mexendo, as pessoas estavam saindo do conforto de suas casas para expressar sua enorme insatisfação. E eu achava que tudo isso não ia passar de uma manifestação contra o aumento dos R$0,20...

Claro que achei tudo muito lindo (excluindo as atitudes de uma minoria que quis destruir ao invés de manifestar-se), mas agora que a primeira agitação passou e foi conseguida a revogação do preço das passagens (ainda que de forma errada, pois ela não levará ao investimento das empresas no transporte público, uma vez que se deu pela redução dos impostos e não dos lucros), paro pra pensar qual é o próximo passo.

É bem claro que, fora a questão do caótico transporte público, os manifestantes tem objetivos diversos. Corrupção (que é um termo muito geral), saúde, educação, gastos excessivos com a Copa do Mundo, PEC-37... Aí eu lhes pergunto: onde essas manifestações irão nos levar? Todos os que foram pra rua demonstraram sua tremenda insatisfação e não estão nada mais do que certos por isso. Estão em seu direito. Mas e agora? O que é que muda? A alegria do brasileiro vai ser estampada em infinitas passeatas de muitos dias pra mudarmos todos os problemas do país?

Infelizmente, o povo que necessita do transporte, saúde e educação pública não comparece a essas manifestações. Ou está em minoria representado ali. A camada social menos privilegiada não está nas ruas. Estão nas ruas a  "elite cultural" do país, que se viu no direito de gritar pelas injustiças do país como um todo, que os atingem e que atingem os menos afortunados. Até onde isso é bom, até onde é ruim, eu não sei. Não faço ideia. Não me pergunte.

Na minha humilde e leiguíssima opinião (não entendo bulhufas de política), ainda falta foco nessa "revolução dos vinte centavos". Conseguiram o principal. Ainda há muito a ser feito. Nem o fim de partidos, nem o impeachment da Dilma, nem vandalismos resolverão o problema. Se os governantes não mudarem de atitude e VOCÊ, meu caro coleguinha virtual que me lê, não aprender a votar corretamente nada vai mudar.

Continue colocando pessoas corruptas para te representar e vá pra rua erguer a bandeira do país, vai adiantar ó: um monte.

E outra coisa muito importante: exigimos transparência e honestidade dos governantes, mas será que somos transparentes e honestos? JOVENS, vocês não contam mentirinhas? Não gastam dinheiro dos pais sem contar realmente pra onde foi esse dinheiro? Não colam nas provas? Pois é. Hipócritas! Pegam cartazes, pintam as caras mas não mudam pra ser parte da mudança. Não exija dos outros o que você próprio não faz.

Sim, o gigante acordou. O povo brasileiro não foge à luta. Essa guerra é nossa, até que os protestos se tornem apenas eventos sociais. Até que os protestos não possuam foco. Até que cheguem as eleições e sejam eleitos corruptos.

Não tenho o direito de criticar ninguém, critiquei a mim mesma com tudo isso, por que sou uma cidadã que pouco se interessa pelos seus direitos ou pela política de seu país, mas, como sempre digo aqui, possuo o desejo para mudar. A mudança começa de dentro e exige organização. Que tudo isso não seja em vão, que seja apenas o começo de uma era na qual a Senzala se liberte das rédeas da Casa Grande e comece a influenciar nas decisões do país, afinal, a exploração acabou há muito tempo. Teoricamente.

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