sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobre espelhos e lentes de aumento

Eu queria começar a escrever dizendo que o modo de vida do nosso século não utiliza com exagero esses objetos do título, mas não posso. Quer dizer, não exatamente os objetos (que são bem úteis no dia a dia), mas os significados que eles trazem.

Parece mesmo que o espelho tem sido valorizado excessivamente. Por ele são descobertos egos feridos e julgamentos desnecessários. Engraçado como algumas coisas que eram muito comuns no passado tornam-se hoje motivo de escândalo e julgamento de pessoas que a usam. Coisas que estão na aparência, mas que a maioria das pessoas associa com caráter, como se o rótulo fosse influenciar no produto. Falo por mim mesma: há 40 anos era extremamente comum usar batom vermelho, ele era o queridinho das mulheres modernas. Obviamente não sei como elas se sentiam quando saíam nas ruas com os lábios vermelhos, mas se eu resolvo usar um batom vermelho hoje, algumas pessoas me olham como se eu tivesse cometido um assassinato. De verdade. É muito engraçado perceber as diferentes reações, por que alguns riem e elogiam, enquanto que outros fingem que eu não existo ou me olham de forma estranha. Essas atitudes meio que condicionam meu uso de batom vermelho e não deveria ser assim! Eu deveria ser livre pra poder usar o batom que quero quando eu quiser! Infelizmente existem dias em que minha autoestima não está tão boa das pernas e eu acabo abandonando esse hábito pra não ficar mais machucada, por que eu sei que alguém vai me olhar torto... Penso que com os homens a questão da barba também seja bem por aí...

Pra mim não interessa a cor do batom que você use ou o comprimento da sua saia: nada disso pode determinar seu caráter. Como se todas as pessoas que agem corretamente usassem apenas terno... Brasília, oi?!

Outro problema também é colocar uma gigantesca lente de aumento em algo que não passa de um grão de areia. O meu batom vermelho não vai determinar meu caráter, ele não diz que eu sou uma vadia e muito menos determina o meu jeito de agir. Meu batom vermelho reflete um gosto, um ícone, uma beleza e não o seu julgamento maldoso da minha personalidade. Como sou um ser do sexo feminino levo em consideração algumas coisas. Muitas coisas me machucam, não por que eu seja fraca, mas por que sou mulher e, antes de tudo, humana.  Mas nem por um segundo sequer o que eu visto ou deixo de vestir dá a alguém o direito de julgar meu caráter baseado na minha aparência. Essa lente estranha não apenas aumenta, mas inventa e colore uma característica que não está lá. Jesus não andava com gente limpinha e cheirosa durante a sua vida aqui. Ele andava no meio de pescadores, prostitutas, leprosos e gente que não seguia os padrões da época. Gente que não era considerada bonitinha. Poucas foram as vezes que ele tratou com importância gente que a sociedade achava importante. Ele não usava lentes de aumento para a aparência das pessoas: ele as amava pelo que eram. Quantas e quantas vezes você preferiu um cheirosinho a um mendigo? Quantas vezes você escolheu um amigo pelo que ele aparentava fisicamente? Eu posso dizer com propriedade que errei ao olhar pra uma pessoa e tentar adivinhar o caráter dela a partir da aparência. Não uma, não duas, mas muitíssimas vezes.

Voltando ao espelho, é preciso ter cuidado com quem você quer parecer. Sinto como se houvesse uma epidemia estranha que transforma em referência pessoas que são pura vaidade. Declarar o ódio a qualquer pessoa é algo batido nas redes sociais e virou padrão de comportamento. Toda essa coisa de julgar aparências também. Não acho que mulheres que exibem apenas seus corpos e que gastam todo o seu tempo, esforço e dinheiro para melhorar a aparência mas que não tenham opinião própria deveriam ser tidas como ícones. Como é que fica aquela história dos sutiãs queimados? Pra que conseguimos o direito ao voto? Não acho que homens com carros de luxo, empregos de alto escalão e muitos bens deveriam ser tomados como referência. Esses modelos são comandados pelo mais velho opressor que se tem noticia na humanidade: o dinheiro. A cultura fast food tem colocado preços (e notas!) até mesmo nas pessoas. Acho uma incrível falta de imaginação...

Eu tenho ícones diferentes... Gosto de uma figura apaixonante da internet que diz que maquiagem serve pra divertir e transformar pessoas, não pra ser uma ditadura. Que diz ainda que ninguém precisa sair por aí comprando tudo o que as lojas oferecem por que dá pra se virar e ser feliz com muito menos do que todo mundo diz e que adora fazer compras em brechós por que diz que lá se encontram as coisas mais legais. Gosto daquela atriz que admite odiar dietas e que está cansada de que as pessoas digam que ela está “cheinha” quando está normal. Gosto também da outra atriz que diz saber que já possui mais de 40 anos (e outra ainda, mais de 60) e que não precisa que as pessoas fiquem a lembrando disso. Recentemente descobri outra mulher que achei extremamente bonita em um desses filmes clássicos e que envelheceu lindamente permanecendo com o seu característico nariz de origem italiana, como o meu.  

Quero finalizar dizendo que espelhos são necessários e extremamente perigosos. Não deveríamos almejar ser como clones ou como pessoas fúteis, mas como versões de nós mesmos usando alguma inspiração de fora, por que só assim é possível ser inspiração. Já as lentes de aumento tendem a ser apenas prejudiciais, tanto quando aumentam demais uma autoestima ou quando a diminuem. Um dos meus sonhos inatingíveis seria poder andar em um mundo onde, quando eu saísse na rua usando shorts eu não fosse engolida pelos olhos alheios, que quando eu usasse batom vermelho não pensassem que eu sou uma vadia e que a maneira de me vestir não determinasse como as pessoas me tratariam. 

3 comentários:

  1. O Nino nunca some, ele aparece em momentos de dificuldade onde sua presença é de fato relevante, tipo o Batman.

    Mas Nino também tem sentimentos e ficou chateado por ter sido sumariamente ignorado no post natalino, que na opinião dele, foi de longe o melhor comentário que ele já tenha publicado por aqui. Aquelas palavras talvez bobas foram realmente de coração hahaha

    Mas não esquenta, alguns dirão que Nino é um fofo, outros dirão que ele é um psicopata/traficante de órgãos... Nino não se importa.

    Pobrezinho, tudo que ele tem é essa paixão meio distante e um pouco de tédio que o leva a entrar aqui vez ou outra em busca de inspiração e oportunidades de falar sobre si mesmo na terceira pessoa :D

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  2. Mas gente, moço: NÃO LEIA MEU TWITTER! Eu sou uma pessoa louca que fala sozinha na internet... não faça isso! hahaha

    Me desculpe a indelicadeza, mas aceitei o comentário em meio a uns dias atribulados sem acesso decente à internet... e achei que talvez o que foi postado tenha sido complementado com o que você disse e só.

    Acho estranho declarar alguma paixão, ainda que distante, sendo anonimo... cuidado Nino, nesse grande mundo online alguns rostos não permanecem ocultos pra sempre...

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  3. Ah moça, não te acompanhar pelo twitter é tipo comprar Ruffles e pedir pra mulher do caixa tirar o ar de dentro do pacote. Gosto dos seus momentos reflexivos tanto quanto das suas neuroses! É... talvez nem tanto, mas o ar dentro do saquinho serve para proteger as batatinhas :)

    E não é que seja tímido nem nada, é que gosto assim, esse sentimento de amor nunca consumado. Deixa eu brincar de Romeu um pouquinho hahaha

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