domingo, 7 de dezembro de 2014

Sobre esperança em meio a tempos difíceis

Neste sábado aprendi várias coisas interessantes que quero compartilhar aqui. 
O dia tão esperado da campanha dos estudantes da Federal e da USP que participam do Natal Solidário chegou. Eu esperava coisas completamente diferentes do que aconteceram. O sol não deu trégua o dia todo e, durante toda a tarde, mais ou menos 150 verdinhos estavam espalhados por São Carlos arrecadando doações para ajudar instituições da cidade. Quantos são daqui? Eu não faço ideia, chuto menos de 1%...
A arrecadação começou. Segui com dois amigos cobrindo uma área de tamanho razoável onde já tínhamos panfletado avisando sobre a arrecadação. No começo, cada casa era uma expectativa, cada pacote de macarrão uma vitória. É engraçado como é possível se envolver tanto com alguma causa a ponto de ficar feliz por cada pequena conquista. Deve ser como quando os pais assistem aos filhos durante a vida. Cada pequeno passo é uma alegria.
Percebi que sempre as casas mais humildes eram as que nos davam sacolas cheias. Das mansões e casarões em que batemos recebemos um "ainda não fiz a despesa do mês" ou um pacote de achocolatado aberto. Contrastando com isso, uma senhora me entregou um pacote de fraldas dizendo que não tinha feito a despesa por que estava com o braço quebrado fazia um tempo. Ela morava nos fundos de uma casa. Outra senhora, em uma casa de tamanho razoável, negou a doação por que estava almoçando e a comida iria esfriar. Muitas outras, de residências humildes, me entregaram litros de óleo, pacotes de macarrão e um Deus abençoe no final. Um senhor fez uma brincadeira com minha amiga e começou a conversar com a gente, perguntando de onde éramos. Disse que trabalhou na região de Americana e conhecia bem as tecelagens. Por fim, desejou boa estadia para nós em São Carlos e nos despedimos dele com a doçura de um pacote de açúcar que nem se comparava à doçura daquele senhor para com a gente. Em uma casa cheia de enfeites de Natal, uma mulher respondeu prontamente e logo me trouxe uma sacola cheia de coisas, me dizendo que havia uma bolacha pra gente no pacote. Eu agradeci e falei que tínhamos bolachas e certamente aquela iria para a pilha de doações.
Chegando ao final do nosso trajeto eu estava extremamente cansada. Quando nossa água acabou, paramos em frente a uma loja de móveis e pedimos água. A moça nos atendeu prontamente, nos deixou entrar até nos fundos da loja e disse para bebermos o quanto fosse necessário. Aquela atitude, por mais simples que fosse, significou muito pra nós. Ser bem recebido em qualquer lugar é sempre algo que acalenta a alma, ainda que seja só pra tomar um copo de água.
No final da tarde existiam muitas considerações em minha cabeça, como sempre. Como é fácil para as pessoas mais humildes doarem, como é difícil para quem tem muito desfazer-se de pouco, como é recompensador fazer algo para ajudar as pessoas que precisam... e é bom rir de si mesmo quando você se encontra perdida em um quarteirão! Os amigos também fizeram o meu dia feliz!
Com tudo isso, recordei que, novamente: antes de qualquer coisa sou um ser humano. Não interessa quantas matérias eu bombei, quanto dinheiro tem na minha conta e muito menos onde eu moro: as lágrimas são sofridas pra todos, um sorriso acalenta qualquer coração e um pacote de feijão pode significar muito mais do que um quilo de alimento não perecível.
Não importa o quão sofrida esteja a vida, quantas dificuldades ainda estejam por vir, quantas derrotas aguardam o tempo passar... nada disso interessa quando você resolve doar um pouco do seu tempo para ajudar quem precisa.
Com o entardecer, o outro compromisso da noite se aproximava e o cansaço ficava mais evidente. A cabeça vermelha de sol, as pernas ardendo e o coração alegre. Foi com o coração alegre que fui adorar Aquele que colocou o amor no meu coração. Foi com o coração leve que pude perceber o que significa comunhão. É sempre no coração do Pai que nos encontramos, conhecendo outros que se encontram por lá, não interessando o lugar onde a reunião acontece. Ali, éramos todos filhos do mesmo Pai, embora as convenções sociais e a timidez me fizessem um pouco desconfortável.
Descobri nesse final de semana, incluindo a visita à creche na sexta que não descrevi aqui, que doar-se faz com que você se identifique primeiro. Traz de volta uma sensação de que você tem uma missão para cumprir. Traz de volta sua fé, tanto em um Pai sempre amoroso, quanto em pessoas que sabem demonstrar esse amor através de ações.
Em meio a tempos difíceis brotou uma esperança que jamais previ. Em meio a tempos tenebrosos, não apenas em relação à faculdade, mas em quase todas as áreas da minha vida; nasceu uma sensação de alívio. Aquela sensação que eu tinha do mundo quando minha idade era parecida com a daqueles pequenos de sexta feira. A sensação de que o mundo poderia ser mudado se existissem pessoas dispostas. A certeza de que essas pessoas existem me fez mais feliz. Papai Noel que me desculpe, mas ele continua sendo um personagem coadjuvante no meu Natal...

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