domingo, 29 de março de 2015

Sobre cursar Engenharia Civil

Saiu meu nome na lista!
“Deus abençoe”, “Você merece!”, “Vai fazer minha casa de graça né?!”
Mala pronta, casa arrumada, mundo novo, nova cidade. Como eu odeio São Carlos!

Na primeira aula de Cálculo 1 eu queria sair correndo. Levei o primeiro semestre achando que ainda estava no ensino médio. A ficha ainda não tinha caído, eu ainda não tinha entendido que estava em uma universidade federal! Era um sonho, era uma alegria besta perante tantas dificuldades. Diante dos problemas falei mil vezes que iria largar aquela doideira e fazer sociologia... Se era pra aprender uma linguagem nova, que fosse com palavras, não com expressões matemáticas.

A maior verdade é que engenharia não é engenharia no primeiro ano de curso. Nada tem a ver com o sonho de construir coisas, aprimorar o mundo e ser criativo. O primeiro ano de faculdade de um futuro engenheiro é engolir e digerir caminhões de conceitos teóricos sobre como os números funcionam, sobre limites de funções no infinito, sobre como é calculada a área entre duas funções... Sobre como definir um plano no espaço e sobre como calcular azimutes, poligonais e distâncias. É tudo muito desgastante, muito teórico pra quem achou que na faculdade iria sair das salas de aula e explorar os ambientes do mundo.

Conforme o tempo passa e você se aprofunda nas ideias que vai aprendendo repetidamente e repetidamente, conforme você entende que bombar uma matéria não significa que você não é capaz de superá-la, conforme você começa a pensar analiticamente perante as situações do cotidiano, começa a perceber que não tem mais volta. Sua mente e seu coração já se decidiram. Você será uma engenheira. No primeiro ano era só achismo, pensava estar em um curso que poderia significar a morte de um sonho de muitos anos. Agora vem o alívio na alma e o contentamento do coração: você será uma engenheira. Seus estudos estão dando frutos, você já consegue fazer algumas coisinhas, dar algumas dicas.

Todos os dias o aprendizado é pesado, constante e consistente. Todos os dias haverá uma cara feia te encarando, um cansaço mental, um cansaço físico e, só pra quem consegue enxergar, muitas pequenas conquistas. A jornada de um engenheiro wanna be não é nada fácil. É de muitas choradeiras, muitas noites tardias de sono atrasado, muitas batalhas contra a preguiça... Mas Deus deve me amar muito por que colocou amigos incríveis no meu caminho durante essa jornada. Amigas que viraram irmãs, que eu amo como se as conhecesse desde que eu tinha 6 anos de idade. Sim, Deus colocou mulheres maravilhosas na engenharia civil pra quebrar todo e qualquer preconceito que ainda exista sobre nós num mercado predominantemente masculino. E que mulheres competentes tenho conhecido!

Não é possível expressar tamanha gratidão pelos anos de faculdade até agora. Todas as situações têm me fortalecido, me feito mais resistente a comportamentos rudes, a situações adversas, a aprender a ser feliz sempre. É claro que eu reclamo. Reclamo demais. O tempo todo. Mas no fundo é tudo um muito obrigada pelo que tem acontecido comigo, posso ver que há um propósito maior adiante, além do sofrimento.

Sempre escrevo daquilo que sei, do que vivi. Não sei sobre as outras amigas e amigos que cursam outras faculdades, mas é assim que sou na engenharia civil. Sem tempo pra almoçar em alguns dias, com almoços agradáveis de bate papo em outros, com noites mal dormidas e noites de hibernação: vou vivendo entre extremos. Entre gargalhadas verdadeiras e choros introvertidos, entre sol e chuva, dia após dia.

E hoje? Hoje eu amo São Carlos! Alguém volte no tempo e conte para aquela bixete reclamona que as coisas vão mudar! Que ela só precisava aprender a ser grata! Que ela não deve desistir depois de uma nota baixa!

E amanhã? Tenho aula de Estradas. As coisas estão deixando de ser abstratas mas eu não quero sofrer pelo futuro. O dia de hoje ainda tem muito que me oferecer. Sigo estudando, por que esse relato foi um aquecimento pro próximo round... Deixe pra amanhã o futuro: hoje eu só quero estar contente.

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