sábado, 4 de abril de 2015

No silêncio entre a morte e a ressurreição

Sua morte ocorreu através de um sofrimento inimaginável.

Enquanto de seu corpo o sangue escorria entre um e outro açoite, entre uma risada de escárnio e um arquejar profundo, sua alma estava igualmente à prova. De longe, um inimigo muito familiar, consumido pela inveja de tão grande amor, acompanhava atentamente a cena. Seus olhos não podiam acreditar o tamanho da humilhação sofrida pelo Deus de todo o Universo. Ele estava entregue: completamente homem, completamente Deus; sofrendo todos os abusos que a intolerância, o rancor e a arrogância dos homens pudessem conceber.

Seu corpo estava impregnado com o sofrimento do calvário. Qualquer um que o olhasse poderia perceber. Nem todos se apiedaram de sua jornada maldita, muitos estavam consumidos pelo ódio, com corações inflamados pelo rancor de um homem pacífico, dedicado ao amor. Apesar de todo aquele sofrimento, seu olhar era doce. Abraçava sua cruz. Sabia desde o princípio das eras qual era sua missão. Lembrava de cada coração que seria alcançado através daquele ato, milhares de anos depois. Olhava o mundo pelas lentes da misericórdia. Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.

Antes de sua caminhada à derradeira cruz eu já me consumia em aflição. Enquanto era açoitado, seu rosto desfigurado me lembrava de todas as vezes em que meu ego falou mais alto. Cada vez em que eu perdi o controle, cada vez em que desejei o mau. Era meu aquele castigo que Ele levava sobre si. Era minha aquela dor, era o meu destino, meu salário. Um Deus justo não poderia me deixar impune. Eu chorava copiosamente, arrependida, durante todo o trajeto. Aquele homem que caminhava aos tropeços, arquejando a cada novo fôlego, não possuía nenhuma acusação. Eram as minhas falhas que estavam sendo cobradas ali.

Enfim, desfalecia nos braços do Pai. Toda a Terra desfalecia com o Cristo, Filho do Deus Vivo. 

Ali, aos pés daquela cruz, jazia a esperança que meu coração alimentava. Ali, no silêncio que contemplava apenas minha respiração lenta e o descompasso das batidas do meu coração, eu mal podia acreditar no que meus olhos viam. Todo aquele lugar cheirava morte, estava consumido pelas trevas. O inimigo que observava toda a caminhada daquele homem deveria estar confuso, não sabendo se comemorava a morte do Filho de Deus ou se temia o que viria a seguir. Não podia acreditar que aquele homem não desistiu de tamanho sofrimento por uma humanidade tão corrupta, mesquinha e arrogante.

No romper do dia, enquanto eu esperava contra toda esperança, um anúncio inacreditável tomou a todos de surpresa. O sepulcro não era grande o bastante para conter toda a sua glória: meu Cristo estava vivo! Se cumpria o projeto mais maravilhoso já arquitetado no Universo.

Meu Redentor vive! Aleluia!



Esse texto foi escrito com licenças poéticas, depois de assistir novamente o filme A Paixão de Cristo ontem. Obviamente eu não estava lá, mas toda vez em que reflito sobre a crucificação de Jesus essas são as imagens que passam pela minha mente, retratadas com detalhes no filme. 

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