quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sobre saudade

Intraduzível, sentimento intrínseco de qualquer nostálgico
Visita, senta à mesa e me espera para o chá da tarde
Empoeirada,
De cabelos brancos,
Senhorinha simpática essa saudade...

Por vezes permanece ao meu lado
na impossibilidade de um abraço que a mande partir,
na reflexão feita com a cabeça no travesseiro,
na lembrança peculiar de alguém particular.
Por vezes vai embora sem avisar,
me deixa sem peso nenhum na consciência,
me abandona diante do novo,
certifica-se que quando olho no espelho não há ferida no coração.

Mas essa saudade... por vezes é menina,
me chama pra brincar fora de casa,
me faz chorar com sua simplicidade:
eu só queria estar em algum lugar do tempo que não fosse o hoje,
só queria reviver o mesmo momento de novo,
de novo, de novo e de novo...
É arteira, é geniosa essa saudade,
enche minhas frases de reticências,
meus sonhos com imagens infantis e
deixa meu coração mais pesado um pouco,
mais doído, mais aguado,
mas por vezes mais esperançoso.

É tão malandra essa saudade que por vezes me enganou e
apareceu pra mostrar coisas que não foram,
sentou do meu lado pra explicar que não diferencia realidade de imaginação:
o que vivi ou imaginei fazem parte do seu repertório.

Como tudo no mundo, sabe que o tempo faz efeito sobre ela também,
ameniza, dissipa ou enaltece seus traços.
Mas o tempo não consegue destruí-la.
O tempo me fez senti-la indefinidamente,
me fez pensar se o vazio da alma não era saudade.
Percebi que talvez ele fosse,
talvez seja saudade da plenitude vivida antes daqui,
da vontade louca do reencontro e do alívio.

Ah, minha alma e a saudade são melhores amigas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário