domingo, 7 de junho de 2015

Sobre a juventude e a insanidade do tempo

Vinte e poucos, faculdade, o mundo a minha frente. Quantas escolhas puder imaginar e uma rotina maluca, abarrotada de responsabilidades e de um desejo irresistível de liberdade. Cheia até o pescoço de sentimentos bagunçados, ideais escondidos e trabalhos a serem escritos. Confesso que quando era criança toda essa insanidade jamais passou pela minha mente. Mas a gente não é mais criança, certo? Não dá mais pra ficar na rua pulando amarelinha enquanto a tarde vai embora. Não dá mais pra gritar a mãe quando esqueço a toalha no banho. Não, não agora nos meus vinte e poucos. Não nesse barulho incessante do relógio.

É inevitável que eu faça perguntas a mim mesma enquanto os ponteiros rodopiam. Todas as histórias que escuto, leio e presencio; todas e cada uma me conduzem a um caminho, por vezes tortuoso, dentro da minha cabeça. Sucessos aos 18, MIT’s e Harvard’s, inteligências fora do comum e arrogância até o ultimo fio de cabelo tratado com shampoo importado. Do outro lado e com a mesma idade, gente que largou tudo pra ser mais simples, gente que aprendeu a servir, que resolveu não enlouquecer intelectualmente e hoje leva a vida de um jeito que satisfaz a imagem de adulto que se tinha na infância. Mas sabe, continuo aqui. Continuo com minha dose normal de insanidade. Continuo sem poder fazer muito, sem poder fazer com que a criança que fui se sentisse orgulhosa por quem me tornei. Será a tal crise dos vinte e poucos? Pois é, eu não sei...

Ser jovem com convicções é algo extremamente subestimado. Qualquer um tem seu preço, qualquer um pode ser amável uma vez que exista beneficio em agir dessa maneira. Cética?! Às vezes... não posso mais negar. Tudo gira em torno de um egoísmo exacerbado e na maioria das vezes acabo rodopiando nesse ciclo, por vezes em cima, por vezes abaixo. É nesse mundo louco, nessa insanidade dos tempos que eu existo, por que penso. Penso por demais, penso em coisas que não deveria, crio cenários gigantescos em torno de muitos problemas. Crio escapatórias perante soluções. Mas ser jovem e ter convicções é poder resistir aos ventos de tempestade. É resistir às dúvidas, é não ceder ao desespero, é encontrar forças quando tudo o que resta é fraqueza. Minhas convicções são invisíveis aos seus olhos, mas não se deixe iludir pela minha pouca idade: mar calmo nunca fez bom marinheiro e eu estou acostumada às tempestades.

Para que, no fim das contas, eu não soe repetitiva ou completamente desencorajada em plenos anos de juventude, deixo apenas o retrato. Você sabe qual quadro estou querendo pintar aqui, você já o desenhou tantas vezes... Por tantas vezes buscou o prazer e a felicidade em alguns momentos de bebedeira, nos braços e bocas de outras pessoas, nas coisas que o dinheiro pode comprar. Eu sei disso, eu tenho a sua idade, lembra? Eu sei que na correria insana da vida alguns minutos fora de si mesmo às vezes parecem necessários. No final do dia, a verdade é que nada disso vai estar te esperando. Você sabe disso também. No final do dia, quando a cabeça encontra o travesseiro, o que resta é você: sua consciência nua e crua, te esperando pra conversar. E mesmo na correria insana dos tempos acaba sobrando um tempinho pra sofrer. Pra analisar. Pra tentar entender.

Esse quadro meio estranho, desconexo, cheio de pressa e de ressentimento cheira lição de moral. Cheira velhice. Cheira decadência: o final dos dias. A vida passa rápido demais. Amanhã já é segunda feira e eu ainda nem consegui dormir. Continuo pensando, imaginando como a juventude será lembrada por mim no final dos dias. Em como algumas atitudes poderiam me fazer conviver com suas consequências pra sempre. Mas ser jovem e ter convicções é algo subestimado. Talvez você já tenha perdido as suas pelo caminho e deixado órfã a criança que sonhava em ser alguém que de alguma maneira mudaria o rumo das coisas apesar da insanidade dos tempos.

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