quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Um relato improvável de uma noite inesquecível

A vida de pastor de ovelhas na região da Judéia não é tão tranquila quanto parece. Era necessário vigiar aquelas ovelhas e se importar com cada uma delas para que não houvessem prejuízos. Era uma vida sofrida, difícil. Enquanto deixava minha esposa e meus filhos repousando em nosso humilde lar, meu coração não se aquietava um segundo sequer. Sentia-me daquela maneira toda vez que eu os deixava sozinhos para trabalhar no turno da noite.

Naquela noite falávamos sobre a crise que permeava nossa economia e a corrupção que se alastrava como erva daninha em nossa terra. Os impostos estavam cada vez mais altos e nós mal tínhamos dinheiro para ter certeza de que haveria comida suficiente na mesa no dia seguinte. O dia de amanhã era sempre incerto e parecia muito pior quando trabalhávamos a noite porque precisávamos garantir que nenhuma daquelas preciosas ovelhas escapasse. Não importava quão grande fossem o cansaço ou os calos em nossas mãos, não era possível adormecer. 

Enquanto conversávamos, um pouco preocupados com o cenário que nos permeava, eu me lembrava daquela velha história que meu avô me contava nas celebrações de Páscoa, sobre como Moisés libertou o povo da opressão de Faraó e sobre um Deus tão poderoso que decidiu que, não importa quão difícil fosse, um dia haveria libertação para o povo que clamava por isso. Fazia tanto tempo... Será mesmo que eles atravessaram o mar? Seria mesmo tão duro o coração de Faraó? Seria Moisés corajoso como eu o imaginava?

Novamente, o povo de Deus sofria. Eu sofria com aquelas vigílias noturnas, estar separado da minha família, estar trabalhando praticamente para pagar os impostos, estar sob um domínio muito pior do que um Faraó mal humorado. O mundo sofria as consequências de seus delitos. As trevas que permeavam nossos dias não eram apenas as noites que passávamos em claro. Uma promessa ainda nos esperava. A promessa da libertação. A promessa de que um menino nasceria para ser nosso Príncipe da Paz.

Jamais poderia imaginar que naquela noite tudo seria diferente.

Enquanto ainda conversávamos, já sonolentos por causa da madrugada que avançava sobre nós, apareceu o anjo do SENHOR. Sim, O ANJO DO SENHOR! Era o que de mais inesperado eu poderia imaginar para aquela noite. Ficamos imóveis e sem saber o que fazer, tamanha beleza diante dos nossos olhos. Não podíamos acreditar que aquilo estava de fato acontecendo. O anjo vinha dizer a nós, pastores, pobretões, oprimidos por tanta dor e cansaço, que o Salvador, o Cristo tinha nascido! De repente, como se aquilo já não fosse surreal o suficiente, apareceu uma multidão, incontáveis anjos estavam diante de nós! Um exército celestial louvava a Deus da maneira mais incrível que eu jamais poderia imaginar!

"Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens!"

Boa vontade? Aquilo era inacreditável! Todos concordamos que deveríamos prestigiar tão esperado nascimento. A jornada foi de apreensão, afinal, deixávamos nossa vigília da noite para nos encontrarmos com o menino Cristo. Em meu coração e em minha mente se passavam tantas coisas... Será que alguma ovelha escapará? Será mesmo que todos aqueles anjos estavam ali? Deus realmente havia nos prestigiado com tamanho presente? O Cristo realmente nasceu? Será que minha família está bem?

Ao chegarmos naquele lugar humilde, tão familiar para nós, vimos o menino. Tão profundo e doce aquele sono, tão amorosos os braços da mãe. Lembrei-me do nascimento do meu filho. Aquele era um momento cercado de amor e ternura na esperança da nova vida. Naquela noite, todos nós ganhávamos uma nova vida. Uma nova esperança. Um novo motivo para celebrar. Um motivo tão pequenino e tranquilo, cujo nascimento havia sido anunciado a nós pelo exército celestial, anunciado desde muito tempo... Desde tanto tempo quanto eu nunca conseguiria imaginar. Assim que meu coração soube que ali, envolto em panos estavam a esperança de tantas gerações e a resposta de tantos clamores, tudo se aquietou. Eu vivi para ver a promessa cumprida. Fui contemplado pela Glória e pela majestade do Deus menino!

Todas as vezes que conto essa história meu coração de enche de alegria e esperança. Meus netos adoram ouvi-la durante nossas celebrações... A vida não se tornou mais simples do que era. Continuamos lutando contra a corrupção dos homens, mas a visão daquele bebê mudou tudo. Hoje meu coração se aquieta com maior facilidade. Hoje sei que existe um Deus que libertou seu povo, que os amou até as últimas consequências. Aquela foi realmente uma noite inesquecível. 



*Obviamente esse é um relato com completa licença poética, mas a imagem dos pastores que se encontram com um exército de anjos sempre fez meu coração se alegrar. Imaginar aquelas pessoas humildes e com preocupações não muito diferentes das minhas tivessem sido contempladas com tamanha honra mostra a maneira como Deus age de maneiras inesperadas!*


Por último, mas não menos importante: FELIZ NATAL! Que a Glória do menininho nascido em Belém seja sobre nós, seres humanos, amados tão intensamente por um Deus poderoso para fazer muito mais do que podemos imaginar!

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