sábado, 27 de outubro de 2018

Sobre meu direito de ser oposição

Questionar é um dos meus legados aqui.

Se o nome desse blog é "Diferente do Mundo", é certo que não sou tão atraída por modismos.
É certo que nunca fui "padrãozinha" em lugar nenhum.

É certo que sou sim extremamente privilegiada em termos de saúde, educação e bem estar financeiro.
Eu nunca passei fome, nunca tive de dormir na rua quando estava fazendo 10°C.
Isso nada tem a ver com meus méritos, afinal, só nasci numa família que tinha condições de me proporcionar as coisas que tive até hoje. Poderia ter nascido em qualquer outra, seja em Alphaville ou no Jardim Ibirapuera, onde visitei essa semana.

Mas enxergo realidades além da minha.

E sei muito bem, por ter aprendido em diferentes etapas da vida e por perceber pontualmente agora, como é horrível ser ignorado. Tão mais horrível é ser desrespeitado. Pior ainda é não poder expor sua opinião enquanto outra pessoa grita com você.

Eu prezo a discussão saudável.
Depois de muita evolução pessoal, emocional e até espiritual, posso dizer que eu prezo confrontos.

Minha fé me confronta diariamente através das minhas atitudes. Se não sou espelho do meu Mestre minha fé não vale de nada. Meu Mestre acolheu as pessoas ignoradas e desrespeitadas de seu tempo. Ele me ensinou o amor sublime, que jamais será comparado a qualquer outro.

Meu Mestre sempre foi oposição aos religiosos da época dele. Paulo, seu seguidor e exemplo de vida, criticava com fervor a hipocrisia que os rodeava.

Sou oposição, especialmente quando tem hipocrisia envolvida na parada.

Por que sou mulher,
recém profissional de engenharia,
ter sido estudante de faculdade pública,
ter utilizado o Sistema Único de Saúde,
ter lido e ouvido de gente envolvida com os torturadores (lembram da minha história da viagem no ônibus? Pois é, eu nunca me esqueci) sobre os horrores da ditadura militar,
viver num país de gente que luta e não desiste,
ter amigos que estão sendo ameaçados por um plano de governo mesquinho e leviano para o sistema de educação no país,
por saber quais as consequências da falta de saneamento,
por saber que a mortalidade infantil muito pouco tem a ver com a saúde bucal das grávidas (sério gente, de onde veio isso, alguém me explica por favor?)
por prezar pelo meio ambiente e um estilo de vida menos consumista (consumista, não comunista tá?),
eu voto pelo meu direito à continuar sendo oposição.

Voto pelo meu direito de igualar direitos. De tratar o seu Zé da feira da mesma maneira como trato o CEO da empresa. Legalmente, emocionalmente e humanamente dizendo.

Por que se a democracia ganhar e continuar a roubalheira vou poder continuar escrevendo, indo à rua e sendo oposição. Mas se a intolerância ganhar posso ser presa ou exilada por simplesmente cumprir um dos meus legados na vida, que é ser oposição.

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